Moçambicanos preparam manifestação contra alto custo de vida
9 de julho de 2022A Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) anunciou, recentemente, que fará o reajuste das tarifas para o transporte inter-provincial, no próximo dia 15 de julho. Data para a qual está a ser convocado, por isso, nas redes sociais, um protesto pacífico com o mote #FORAFRELIMO.
A manifestação está a ser organizada por vários membros da sociedade civil que se dizem "fartos do governo" atual e que clamam por mudança no país. Isto numa altura em que também a Organização dos Trabalhadores de Moçambique - Central Sindical ameaça organizar uma manifestação ou greve à escala nacional como forma de mostrar o seu repúdio pelo elevado custo de vida.
Falámos com "Supleto", um dos jovens ativistas que conta juntar-se ao protesto da próxima semana, e que nos começou por explicar quais as razões que voltam a levar o povo às ruas.
DW África: Quais as razões para a realização deste protesto?
Supleto: A história é bem antiga, mas nós, jovens, decidimos mudar o destino do país. Senão, continuaremos na mesma miséria por mais 50 anos. Foram surgindo grupos isolados e nós nos identificamos com a causa que é libertar o país. Mas não do jeito como foi libertado há cinco décadas atrás, quando tivemos a independência. Conseguimos fazer isso de uma forma mais democrática, inicialmente com manifestações para nos rebelar. E mostramos ao governo e ao mundo o que se passa em Moçambique.
DW África: São protestos que surgem na sequência dos aumentos de preços no país?
Supleto: Essa é apenas a ponta do "iceberg". Nós estamos fartos, muito fartos. O custo de vida está muito alto e o salário mínimo não alcança nem para as refeições. Não dá. E mais de 70% do salário vai para o transporte, se for aumentar, do jeito que eles querem. Neste momento, estamos a falar de 50% a 60%.
DW África: O mote do protesto é #FORAFRELIMO. Ou seja, o que se pretende é pedir a demissão do governo ou exigir do governo novas medidas que possam melhorar a vida dos cidadãos?
Supleto: O partido Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) não tem capacidade de melhorar a vida dos cidadãos. Há quase cinquenta anos, desde os nossos pais, nós que estudamos e conhecemos da qualidade de ensino no nosso país. Já tentamos conversar várias vezes, mas a FRELIMO não consegue. Os dirigentes do Comité Central são senhores de idade que lutaram pela libertação do país, mas são muito egoístas e não dão espaço para se ouvir novas ideias.
DW África: A redução do IVA, exigida por membros da sociedade civil e da oposição, mudaria alguma coisa?
Supleto: Seria uma das medidas para redução dos custos. O IVA é realmente benéfico para os cofres públicos. Mas pela situação que estamos a viver, está muito elevado. É muito para as nossas condições de vida. A redução seria o primeiro passo para o diálogo, se eles quisessem se mostrar abertos.
DW África: Como está a ser divulgado o protesto? Nas redes sociais?
Supleto: Até agora estamos nas redes sociais. Todo o povo pretende aderir, mas o nosso problema é a falta de segurança. Quando falo de segurança, estou a falar da reação da polícia. Já sabemos qual será a reação e realmente muitos jovens têm medo dos resultados. Estamos agora a fazer os pedidos à polícia. Mas acredito que será uma alerta para eles. Então logo estarão preparados. Acredito que no dia 14 [de julho], até o final de dia, em todos os terminais rodoviários, haverá mais gente com carros blindados e cães à espera do pessoal entrar na estrada, para começar a confusão.