Aumentam os raptos de crianças em Luanda
20 de abril de 2015
Descalças, com panos enrolados à volta da cintura e a baterem latas num ritmo sincronizado: diariamente há grupos de três ou mais destas mulheres a circularem pelas ruas de diferentes bairros da capital angolana, cumprindo um ritual que acreditam que lhes trará de volta os seus filhos desaparecidos.
O Comando Provincial da Polícia de Luanda não avança dados concretos, mas confirma que tem em mãos inúmeros casos de crianças desaparecidas. Já a Televisão Pública de Angola (TPA) declara que todos os meses são registados cerca de cem casos de desaparecimentos.
Segundo a polícia nacional, muitas crianças perdem-se ao brincarem nas ruas, e outras fogem dos maus tratos das próprias famílias. Há muitas que nunca reaparecem.
Raptos nas maternidades
Na capital, estão ainda a aumentar os raptos de recém-nascidos, sobretudo nas maternidades e em paragens de táxis.
No passado dia 9 de março, Paulina Cassinda, de 18 anos, foi mãe de uma menina no Hospital do Distrito Urbano da Samba. No dia seguinte, ao deixar o hospital acompanhada pela mãe, deparou-se com dois jovens numa viatura que se disponibilizaram para a transportar para casa gratuitamente.
"Um deles disse: 'Venham, vamos levar-vos até vossa casa'. Estávamos a passar uma rotunda quando nos apontaram uma arma. A minha mãe começou a chorar com medo. Entrámos na rua do mercado do Kifica, um deles começou a dar indicações quanto ao caminho, e mandaram-nos descer do carro, dizendo ‘você desce e nós vamos levar a sua filha’", explica a jovem.
Segundo Paulina, os dois supostos raptores forçaram a sua mãe a sair do carro nos arredores do bairro Lar do Patriota. A jovem ainda seguiu com eles até às imediações da centralidade do Kilamba, onde a abandonaram e fugiram então com a recém-nascida.
"Quando eles me disseram para eu sair do carro, perguntei: 'para onde vão levar a minha bebé?' Eles mandaram-me apenas descer e fugiram com a minha filha, deixando um número de telefone para que ligássemos", conta.
Polícia apela aos pais para que sejam mais vigilantes
O Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional deteve duas cidadãs de nacionalidade congolesa que supostamente estariam envolvidas nos raptos de crianças. Uma das acusadas, detida no bairro da Mabor, nega as acusações.
"Estou a ser acusada de ter roubado crianças, mas eu não sei de nada", declarou a suposta raptora, alegando ser também mãe dois filhos. "Eu tenho dois filhos, um está no Congo e tem 9 anos. A outra, de 17 anos, vive comigo aqui em Angola, com o meu marido.”
O sub-inspector da Polícia Nacional, Euler Matari, garante que continua a investigar os casos para perceber se há uma ligação entre eles, e apela aos pais para que sejam mais vigilantes.
“As senhoras devem ter bastante atenção à saída das maternidades, e não devem aceitar boleias de pessoas que não conheçam. A polícia continua a investigar os casos passados e os mais recentes para perceber se há alguma relação entre eles e descobrir os autores dos crimes".