Autarca alerta o mundo para a crise eleitoral em Moçambique
20 de outubro de 2023Manuel de Araújo está em digressão internacional para chamar a atenção para o processo eleitoral em Moçambique. Em entrevista à DW África, o edil de Quelimane critica as missões de observação eleitoral, revela que enviou um apelo ao Presidente Filipe Nyusi para que "pondere algumas ações" e garante que cumprirá todas as etapas jurídicas para contestar os resultados oficiais intermédios da votação de 11 de outubro na autarquia, que dão a vitória ao partido rival de Araújo, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Ao mesmo tempo, Manuel de Araújo promete manter os atos de rua, em protesto contra as irregularidades no escrutínio.
O cabeça de lista da RENAMO para a cidade de Quelimane falou à DW a partir dos Estados Unidos e garantiu que passará também pela Europa e pela América Latina. Na bagagem, leva uma mensagem clara: "Moçambique está num mar alto. Instalou-se uma crise no país e nós precisamos que os amigos de Moçambique estejam atentos".
DW África: O que pretende com esta digressão internacional neste momento?
Manuel de Araújo (MA): A nossa estratégia é chamar a atenção, não apenas às embaixadas, que já estão informadas. Algumas delas, como a de Portugal e dos Estados Unidos, tiveram missões de observação. Mas, infelizmente, algumas delas ficaram muito pouco tempo no terreno. É uma crítica que faço. Não faz sentido que as missões tenham saído [tão rápido]. Algumas delas saíram no próprio dia da votação, outras saíram no dia seguinte à votação.
Eles, ou não conhecem o processo eleitoral moçambicano, ou então tiveram medo e saíram do local. Eu penso que, a partir da altura em que se abrem as urnas até à divulgação dos resultados, esta é a fase mínima de qualquer observação eleitoral.
Esta é uma crítica direta que faço às missões diplomáticas em Moçambique.
DW África: Quais são os países e organizações que pretende contactar nessa sua digressão pelo mundo?
MA: Para além do trabalho que fizemos nas missões diplomáticas em Maputo, estamos agora a lançar a segunda fase da estratégia diplomática, que é escalar algumas capitais europeias e americanas.
Em Washington, tenho encontros com várias entidades e pessoas que estão ligadas a África, aos direitos humanos, à democracia e à paz e segurança internacional.
DW África: Qual é a mensagem que leva para a comunidade internacional?
MA: A mensagem é muito clara, é a de que Moçambique está num mar alto. Instalou-se uma crise no país e nós precisamos dos amigos de Moçambique, para que estejam atentos e olhem para Moçambique.
Moçambique já tem um problema muito grave, que é a insurgência em Cabo Delgado. Em Quelimane, tenho recebido centenas de jovens a dizerem: "Olha, se houver alguma ação violenta ou armada, conta comigo". Isso deixa-me triste como moçambicano e é muito preocupante.
Pedi a algumas pessoas muito próximas ao Presidente [Filipe] Nyusi, para que lhe façam chegar uma mensagem que eu próprio enviei, onde exorto diretamente o nosso chefe de Estado para que pondere algumas ações, para que não se deixe levar por pessoas de pouco caráter.
DW África: Como reage à reprovação do vosso recurso pelo Tribunal Judicial da Zambézia? Qual será o próximo passo?
MA: Nada me surpreende. Sabíamos que iriam tomar essa decisão. Aliás, algumas pessoas do próprio judiciário já nos haviam alertado. Agora, vamos ao passo seguinte que é o Conselho Constitucional. Portanto, vamos seguir [todas as etapas] e vamos esgotar o lado jurídico, enquanto mantemos a ação de massas e consolidamos a frente diplomática.