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Bilal Sulay traiu o pai Afonso Dhlakama ao se juntar à CAD?

2 de julho de 2024

Filho de Dhlakama deixa "casa" da família para se juntar à CAD, mas garante que não é traição dos ideais do pai, apenas vai fazê-lo com outra camisola. Sai com a benção dos Dhlakama que continuam na RENAMO, diz Sulay.

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Bilal Sulay (à esquerda) é filho de Afonso Dhlakama
Foto: private - EPA

Bilal Sulay é filho do emblemático líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) Afonso Dhlakama, já falecido. No vigor da sua juventude, tem evidenciado inconformismo em relação ao rumo que a maior força da oposição em Moçambique está a tomar e por isso mudou de caminho, mas levando as propostas do "pai da democracia" na mala. 

Hoje, veste a "camisola" da formação do momento, a Coligação Aliança Democrática (CAD). Sulay juntou-se a Venâncio Mondlane, outro "desertor" da perdiz. O filho de Dhlakama tem a certeza que a sua nova casa vai trazer a diferença para o país. Leia a entrevista: 

Bilal Sulay em entrevista exclusiva à DW

DW África: Não está a trair os ideais do seu pai ao juntar-se à CAD?

Bilal Sulay (BS): Não, não estou não por um simples motivo: neste percurso em que estive na RENAMO eu sentia-me seguro dos ideais do meu pai. O que me fez afastar da RENAMO é que os ideais do meu pai praticamente só ficaram no papel, não estão a ser exercidos. Então, não vejo relevância de me manter num sítio onde os ideais do meu pai, do André Matsangaissa e dos outros que tomabaram pela RENAMO não estão a ser implementados. Não vejo razão de permanecer num lugar onde as coisas só são ditas à toa, mas não são implementadas.

E isso é tão visível que nem é preciso inventar. Estou na nova organização para poder implementar os ideais do meu pai, mas no caminho diferente. Os ideiais dele eu sempre vou implementar, dentro da RENAMO não tive esse espaço e é tão óbvio que houve muitas circunstâncias lá dentro que não me permitiram implementar. Estou bem onde estou e vou implementar os ideais lá e isso é que me dá o orgulho.

DW África: Sai da RENAMO com a benção dos seus parentes que lá permanecem?

BS: Exatamente. E de muitos, eu acho que de 100% [deles]. Todos eles me apoiam, porque em nenhum momento faltei com respeito aos ideais do meu pai. O caminho que vou usar é diferente, mas vou continuar a implementar os ideais do meu pai. Então, não está perdido. Simplesmente troquei de camisola.

Ossufo Momade, líder contestado da RENAMO
Ossufo Momade, líder contestado da RENAMOFoto: DW/A. Sebastiao

DW África: Antevê que os seus parentes da RENAMO possam um dia juntar-se a si na CAD?

BS: Não sei, porque isso carece muito de coragem de cada um. Eu tive o privilégo de trabalhar com o meu pai durante os últimos quatro anos da vida dele e bebi muito dele. A coragem que tive para me juntar à CAD foi mesmo porque tudo que bebi dele estou a implementar. E ele sempre me deu essa liberdade, ao dizer "não te tornes membro da RENAMO só pelo facto de eu ser teu pai, ser líder da RENAMO, mas sim porque achas que os ideais da RENAMO te convençam".

Só para vos deixar a par, eu nunca fui membro da RENAMO, mas sempre fui simpatizante. Eu nasci da RENAMO, o meu pai general e a minha mãe coronel, nasci no meio desses estrondos da guerra, mas o momento em que me ia tornar membro, foi o momento em que o meu pai perdeu a vida. Com aquela  turbulência toda não me tornei, garças a Deus! E digo isso porque me tornaria membro numa altura em que os ideais dele não estão a ser implementados. Então, sinto-me livre.

DW África: Muitos moçambicanos depositam esperanças na CAD e no seu candidato, Venâncio Mondlane. Vê o risco desta coligação vir a transformar-se numa RENAMO ou num MDM, hoje sem relevância política?

BS: Se for para se tornar numa RENAMO de Dhlakama, eu vejo sim. Mas para se tornar uma RENAMO de Ossufo Momade, claro que não. Se continuarmos com o líder que temos, o Venâncio Mondlane, até passa esses duas organizações que menciona. E tenho a certeza que a CAD é a esperanca dos moçambicanos com Venâncio Mondlane.

"Dhlakama morreu pobre e desgraçado pela RENAMO"

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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