Bispos criticam "ambiente sombrio e nefasto" em Angola
1 de fevereiro de 2022A menos de seis meses das eleições gerais, o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) alerta para o "perigoso vazio de diálogo" entre as lideranças partidárias, e entre o Governo de João Lourenço e os cidadãos.
A falta de diálogo, acrescenta Dom José Manuel Imbamba, eleva "ainda mais os níveis de ansiedade, radicalismo, intolerância, indisciplina, violência física, verbal, moral e psicológica".
Os bispos católicos estão reunidos na província costeira angolana de Benguela até à próxima segunda-feira (07.02) e mostram-se preocupados com o atual "ambiente sombrio e nefasto" no país.
A imprensa pública também tem contribuído para isso, diz Dom José Manuel Imbamba.
O desempenho dos meios de comunicação social do Estado "em nada contribui para a harmonia social, para a paz dos espíritos, e para cultura do diálogo, da democracia e da fraternidade", comenta.
Aviso à CNE
José Manuel Imbamba apela, por outro lado, à Comissão Nacional Eleitoral, para que garanta "a verdade e a transparência" nas eleições gerais, previstas para agosto.
"As eleições correrão como queremos se forem bem preparadas - na verdade, transparência, honestidade e justiça."
Na segunda-feira (31.01), o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Manuel Fernandes, pediu explicações ao Governo sobre a contratação da empresa espanhola INDRA para prestar serviços eleitorais. De acordo com a segunda maior força da oposição, trata-se de uma empresa de "triste memória" em relação à fraude eleitoral.
O desespero dos jovens
O bispo José Manuel Imbamba lembra que toda a sociedade "aguarda com expetativa" as eleições gerais. Sublinha também que o desemprego e a situação da pobreza em Angola são temas a que é preciso acudir urgentemente.
O presidente da CEAST diz que a juventude perdeu a fé no futuro: "O desemprego de milhares de jovens continua a agitar a vida social e, em muitos deles, é notório o desespero."
Mais de um terço dos angolanos está desempregado, segundo os dados oficiais. A taxa de desemprego jovem ultrapassa os 59%. E a vida está cada vez mais cara.
"A situação de pobreza por parte de muitas famílias continua assustadora. Ainda assistimos a cenários de recolha de alimentos nos contentores de lixo, nos degraus nas estradas adjacentes aos postos comerciais. A perda de poder de compra das famílias é um facto gritante e dura há muitos anos, apesar das medidas aqui e acolá que vão surgindo", concluiu Dom José Manuel Imbamba.