Blatter tem o "sim" de África nas eleições da FIFA
29 de maio de 2015O que torna Blatter tão irresistível para os africanos? O jornalista desportivo cabo-verdiano Daniel Almeida afirma que o presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA) goza de grande prestígio em África.
"O futebol africano desenvolveu-se nos últimos anos. Foi na era Blatter que aumentou o número de participantes africanos no Campeonato Mundial de Futebol", sublinha. Segundo o jornalista, Blatter e a FIFA também tiveram "um papel importante na melhoria da qualidade do futebol africano."
Daniel Almeida explica que o trabalho de Blatter tem um significado especial para o futebol cabo-verdiano. "Blatter está à frente da FIFA há já alguns anos e Cabo Verde tem beneficiado claramente disso", refere, lembrando que no âmbito do programa "Gol" da FIFA foram realizados grandes investimentos no país. "Até 2007, Cabo Verde não tinha um único campo de relva. Os campos eram pelados, o que dificultava a participação do país em competições internacionais. Hoje, Cabo Verde tem 17 campos com relva sintética – tudo com o apoio da FIFA".
Financiamento de projectos
A FIFA tem sido generosa no financiamento de projectos de infra-estruturas no continente africano. Parte do dinheiro, no entanto, aparentemente não beneficia cursos e projectos de formação em África, acabando, em vez disso, nos bolsos dos responsáveis da União Africana (UA).
Terá sido desta forma que Blatter comprou o apoio dos africanos. Esta é a conclusão de um documentário da televisão alemã ARD, intitulado "O futebol vendido". O filme conta como parte da ajuda ao desenvolvimento disponibilizada pela FIFA acaba por ser desviada por membros da UA.
Guido Tognoni, um ex-director da FIFA, confirma a relação de reciprocidade entre o presidente da Federação, Joseph Blatter, e o continente africano. "O presidente da FIFA assegurou a concessão de fundos de apoio ao desenvolvimento para conquistar uma maior lealdade das associações africanas nas eleições". Porém, acrescenta, "muita desta ajuda financeira é mal utilizada, nem todos os dólares ou euros vão para os campos de futebol, isso é óbvio."
O presidente da FIFA teve também um papel importante na atribuição da realização do Mundial de 2010 à África do Sul - um caso que está também a causar controvérsia. De acordo com o Departamento de Justiça norte-americano, o Governo sul-africano terá prometido 10 milhões de dólares ao então vice-presidente da FIFA, Jack Warner, e outros dois dirigentes da entidade em troca dos seus votos na eleição da escolha da sede do Mundial. A associação sul-africana de futebol já rejeitou várias vezes as acusações, garantindo ter conduzido todo o processo com integridade.
Esta quinta-feira (28.05), foi a vez de o ministro do Desporto da África do Sul, Fikile Mbalula, reforçar esta posição. "Nunca transferimos dinheiro para nenhum delegado da FIFA. O Governo sul-africano não subornou ninguém com 10 milhões ou qualquer outra quantia. A África do Sul irá sempre combater a corrupção", frisou.
Maior crise da FIFA
A entidade máxima do futebol está a atravessar a maior crise da sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo os seus membros. Sete dirigentes da FIFA, entre os quais dois vice-presidentes da organização, foram detidos na Suíça na madrugada de quarta-feira (27.05), a pedido da Justiça norte-americana.
Em causa estarão suspeitas de corrupção nas duas últimas décadas, envolvendo os concursos dos Mundiais de futebol, negócios de marketing e transmissão de jogos.
A União das Federações Europeias de Futebol (UEFA) e a imprensa mundial em peso apelaram à demissão de Blatter, mas o presidente da FIFA abriu o congresso da entidade com um discurso em que ignorou estes pedidos e negou responsabilidades nos últimos escândalos de corrupção envolvendo a Federação Internacional de Futebol.
Casos em que Joseph Blatter não foi indiciado, mas que colocam o presidente da FIFA sob pressão, numa altura em que se candidata ao quinto mandato consecutivo à frente da entidade. Depois das desistências do português Luís Figo e do holandês Michael van Praag, Ali bin al-Hussein, príncipe da Jordânia e vice-presidente da federação na Ásia, é o único concorrente de Blatter nas eleições desta sexta-feira (29.05).