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Rafael Marques fala sobre liberdade de imprensa em Angola

5 de abril de 2012

Começou em abril a fase da votação pública do concurso The BOBs, da DW, um dos maiores prémios da blogosfera. Na categoria "Prêmio Repórteres Sem Fronteiras" concorre o blog Maka Angola, do jornalista Rafael Marques.

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Jornalista Rafael Marques de MoraisFoto: privat

"Maka", em Kimbundo, significa "problema". E são os problemas do país, como a corrupção e a falta de democracia, que o blog pretende combater. A DW África conversou com Rafael Marques sobre a liberdade de imprensa em Angola.

DW África: Em Angola existem várias estações privadas de televisão e rádio. É possível dizer que situação da liberdade de imprensa no país é positiva?

Rafael Marques: Há uma televisão privada, e eu já escrevi muito sobre esta televisão privada, e um grupo de comunicação social do qual a TV Zimbo faz parte. A TV Zimbo é a única estação privada de televisão e pertence ao General "Kopelipa", que é chefe da casa militar do presidente da República e do atual ministro de Estado para Cooperação Econômica, o senhor Manuel Vicente. Então são duas das quatro principais figuras do poder em Angola que dão ordens diretas sobre o tipo de informação que a estação pode ou não pode passar.

As rádios privadas também. Tirando a Rádio Ecclésia e a Rádio Despertar, as outras todas são rádios privadas que pertencem ao MPLA, que, mesmo como partido, criou empresas para controlar a Rádio Lac, em Luanda, em frequência modulada, a Rádio Morena em Benguela, a Rádio Cabinda em Cabinda e a Rádio 2000 na província da Huila. São Rádios cujo capital majoritário é do próprio MPLA, com partido no poder. Então como se pode falar de imprensa e de liberdade de expressão nestas condições?

DW África: E em Luanda são principalmente a Rádio Ecclésia e a Rádio Despertar que têm o papel de transmitir informação credível e independente?

Angola Bürgerrechtler Rafael Marques de Morais Blog Maka Angola Screenshot
Blog Maka Angola é finalista na categoria "Prêmio Repórteres Sem Fronteiras"Foto: Screenshot

RM: É, que tinham. Mas também têm muitos constrangimentos, porque a Igreja Católica tem um alinhamento extremamente partidário, e os bispos têm um controlo extremamente perverso sobre a linha editorial da Rádio Ecclésia. E censuram. E telefonam e imiscuem-se nos assuntos da rádio, de modo a favorecer a imagem do presidente do partido no poder. A Igreja Católica em Angola faz exatamente o oposto daquilo que o Papa veio pregar em Angola sobre a necessidade de defender os pobres, os mais fracos e ser amante da verdade.

DW África: Qual é, do seu ponto de vista, o papel da internet? Já podemos falar de um meio de comunicação que atinge toda a população?

RM: Tem-se a ideia de que a internet atinge menos de 3% da população angolana. É um meio importante, sobretudo na ausência de meios de difusão massiva como rádios e jornais. A internet vai ocupando um espaço importante no sentido de informar mais as populações nas áreas urbanas e aqueles com acesso à internet sobre o que se está a passar em Angola. De todo modo, é importante também notar que em websites como o Maka Angola, por exemplo, regularmente as pessoas têm dificuldade de acesso por causa dos constantes ataques de que é alvo.

DW África: Esses ataques são oriundos do governo Angolano?

RM: Esses são ataques muito bem coordenados, que utilizam tecnologia sofisticada. Estou a dizer isso porque durante um mês não foi possível às pessoas acederem, e várias vezes fica fora do ar. Inclusive já foi preciso mudar de servidor três vezes, porque até os próprios servidores se recusam, mesmo nos Estados Unidos, a manter os serviços com o Maka Angola por causa da qualidade dos ataques que sofre. E para não comprometer outros clientes, então colocam o site do Maka Angola em quarentena, e com o claro aviso de que se os ataques continuam, têm que dispensar os serviços para não comprometer o resto dos clientes.

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