Bolsonaro, o ex-capitão que se tornou Presidente do Brasil
2 de janeiro de 2019Considerado "mito" e "herói" pelos seus apoiantes e um "perigo para a democracia" por críticos e adversários, Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, está na política brasileira há 28 anos e antes de vencer as presidenciais de 2018 foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.
Capitão do exército reformado e defensor da ditadura militar - regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, o 38.º Presidente brasileiro iniciou a carreira política como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.
Bolsonaro ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder capaz de mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão económica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo que as lideranças políticas tradicionais do país foram apanhadas em escândalos de corrupção.
Sempre se posicionou como um inimigo declarado de ideias defendidas por partidos de esquerda chegando a declarar publicamente em inúmeras oportunidades que varrerá do Brasil todos aqueles que defendem a ideologia comunista.
Bolsonaro é favorável ao porte livre de armas e prega que o combate à violência no Brasil, país que atingiu a marca de 63.800 homicídios em 2017, deve ser feito de forma violenta pelas autoridades policiais.
Na área de segurança pública tem propostas polémicas, como a defesa da implantação de uma figura jurídica no sistema legal, que impediria que homicídios cometidos por polícias em serviço fossem julgados criminalmente.
Combate à corrupção
O novo Presidente do Brasil promete combater a corrupção, embora tenha já visto o nome de um dos seus filhos envolvido em suspeitas sobre supostos pagamentos ilegais a ex-funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Embora tenha pautado a sua carreira na defesa do corporativismo dos funcionários públicos, principalmente das polícias e das Forças Armadas, Bolsonaro assumiu recentemente uma agenda liberal.
Anunciou que pretende fazer uma ampla reforma no sistema de pagamento de pensões, fragilizar as leis de proteção dos trabalhadores, reduzir a participação do Estado na economia e abrir o país ao comércio mundial com projetos ambiciosos para atrair investimento estrangeiro.
Para liderar esta marcha, escolheu Paulo Guedes, um economista que defende a privatização de empresas públicas e a não-interferência do Estado nos setores produtivos inspirado nos preceitos do liberalismo económico da escola de Chicago.
Política externa inspirada em Trump
Na política externa, inspira-se no Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendendo uma retórica agressiva contra Cuba e a Venezuela, e tem também demostrado pouco interesse em manter o Brasil alinhado com decisões assumidas em fóruns multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU).
O novo Presidente brasileiro já disse ser contrário ao respeito do Acordo de Paris para o Clima e ao recém-aprovado Pacto mundial para as Migrações.
No que diz respeito aos costumes, Bolsonaro defende valores da família cristã, tendo amplo apoio dos evangélicos que compõem pelo menos um terço da população brasileira e uma frente com grande força política no Parlamento brasileiro.
O novo chefe de Estado do Brasil é contra o aborto, contra políticas de reparação racial (como cotas para negros em universidades e órgãos públicos) e ações voltadas para a proteção dos homossexuais e outras minorias.
Bolsonaro também deixou claro que não aplicará recursos do Governo em organizações não-governamentais que atuam em defesa dos direitos humanos ou da agenda ambiental.
Na área do meio ambiente, é favorável a diminuição da fiscalização de crimes, tendo-se comprometido publicamente em diversas ocasiões acabar com o que chama de "indústria da multas" a que estão sujeitos aqueles que comentem infrações contra o meio ambiente no Brasil.
Nas eleições, Bolsonaro beneficiou da redução eleitoral dos grandes partidos tradicionais e assentou uma política de alianças com novos partidos de direita e deputados associados a igrejas evangélicas, ao negócio das armas e ao setor da agropecuária, que agora são representados no seu gabinete e no Governo do Brasil até 2022. Durante a campanha, o seu lema foi: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
Bolsonaro já casou três vezes, a última das quais em 2007 com Michelle Reinaldo, sua antiga secretária e 25 anos mais nova, e tem cinco filhos.