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"Boom" dos recursos naturais em Moçambique está por um fio?

Nádia Issufo13 de agosto de 2014

Economista diz que perdas financeiras e saídas de grandes investidores como a Rio Tinto do território moçambicano são mais um choque temporário do que um sinal do fim do ‘boom’ dos recursos naturais no país.

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Foto: DW/J. Beck

A anglo-australiana Rio Tinto, uma das maiores empresas mineiras do mundo, anunciou no final de julho que vai vender as suas minas de carvão mineral na província central de Tete ao grupo Coal Ventures Private Limited. A empresa indiana pagou apenas 50 milhões de dólares pelas minas. Antes disso, a Rio Tinto anunciara prejuízos em Tete e a vontade de se retirar da exploração.

Em maio último, outra gigante mineira, a brasileira Vale, anunciou um prejuízo em Moçambique de 32,2 milhões de euros no primeiro trimestre de 2014 e avisou que só investiria mais no país se os custos peracionais diminuíssem.

Será que os anúncios de perdas e saídas significam o fim da era do carvão em Moçambique? O economista Ragendra de Sousa diz que não.

"O que se está a passar no setor do carvão deve-se principalmente à queda dos preços internacionais. Não é só Moçambique que enfrenta dificuldades. Na Austrália fecharam algumas mineradoras, incluindo uma da Vale", lembra o economista moçambicano. "A queda do carvão também está relacionada com aquilo que em inglês se chama 'oversupply' – há um excesso de oferta provocado por uma alta de preços que durou muito tempo."

A precariedade das infraestruturas em Moçambique é outro factor que tem desanimado estas empresas. Além disso, o facto das minas se localizarem no interior, muito distantes dos portos, torna o processo de escoamento mais difícil e caro.

Kohleexport Mosambik PORTUGIESISCH
Percurso entre minas e portos é longo e dispendioso - isso encarece o carvão e torna-o menos competitivo no mercado internacionalFoto: DW

Pressão empresarial?

Apesar dos recuos, Ragendra de Sousa garante que há grupos estrangeiros que continuam a aproximar-se do Governo interessados em investir na área do carvão.

O economista não descarta totalmente a possibilidade dos anúncios sobre as perdas no setor serem uma estratégia de pressão ao Governo moçambicano para que melhore, com mais celeridade, as infraestruturas ferro-portuárias e energéticas. No entanto, ele não quer acreditar nisso.

"As multinacionais têm uma ética e deontologia. Não quero querer que eles venham com este tipo de estratégia. Porque a Vale é um dos maiores financiadores da linha de Nacala", afirma Ragendra de Sousa. "Eles estão é à procura de mais parceiros. Querem diversificar ou dispersar o risco."

Os últimos acontecimentos são apenas um choque temporário, avalia Ragendra de Sousa. Esta está longe de ser a morte do setor carbonífero.

[No title]

"Os economistas indianos ainda vêem o carvão como uma mercadoria rentável", afirma o economista. "Nos próximos anos, a Índia pretende assumir um papel muito forte na indústria do ferro e do aço. Moçambique tem de incentivar a produção de energia a partir do carvão. Assim aumenta-se o consumo dessa matéria-prima. E não esqueçamos que a África Austral é deficitária em energia."

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