"Braço de ferro prejudica estabilização na Guiné-Bissau"
6 de outubro de 2018O analista político Rui Jorge Semedo considerou este sábado (06.10) que o braço de ferro entre o Presidente guineense, José Mário Vaz, e os partidos com assento parlamentar inviabiliza a estabilização do país, defendendo que este é um momento de criar consensos.
"Continuar a manter braços de ferro não é uma estratégia que vai contribuir para a estabilização do país e consequentemente permitir a institucionalização da democracia na Guiné-Bissau", disse o politólogo guineense, em entrevista à agência de notícias Lusa.
Como exemplo deste braço de ferro, Rui Semedo referiu a ausência dos partidos políticos com representação parlamentar num encontro que José Mário Vaz fez com todos os envolvidos no processo eleitoral.
O Presidente guineense reuniu-se na última quarta-feira (03.10) com todos os partidos políticos sem assento parlamentar, primeiro-ministro, Aristides Gomes, Comissão Nacional de Eleições, Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral, sociedade civil e entidades religiosas para analisar o recenseamento em curso no país para as eleições legislativas de 18 de novembro.
Dos cinco partidos com assento parlamentar, apenas o Partido de Renovação Social (PRS) esteve presente. O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Partido da Convergência Democrática, União para a Mudança e Partido da Nova Democracia não foram ao encontro, justificando a sua ausência com a separação de poderes.
Construção de consensos
"Acho que é uma boa iniciativa, mas é necessário lamentar a ausência dos partidos com assento parlamentar, porque o que se precisa neste momento é a criação de consensos entre os atores políticos e nesse aspeto direciono a minha leitura, particularmente, para a ausência do PAIGC", afirmou.
Para Rui Jorge Semedo, quem deveria estar "mais interessado na construção de consensos e na condução de um processo consensual em que todos os partidos políticos se revejam e aceitem os resultados é o PAIGC" porque desde a "abertura política foi prejudicado pelos jogos políticos insensatos e desnecessários".
"O PAIGC tem de se posicionar, sobretudo, para exigir um novo cronograma eleitoral e participar em todos os encontros que visem promover o diálogo e o consenso entre as partes", salientou.
Adiamento das eleições?
Na reunião com o Presidente da República, os partidos políticos sem assento parlamentar pediram o adiamento das eleições legislativas previstas para 18 de novembro, porque consideram que não vai ser possível recensear todos os eleitores até 20 de outubro, como estabelece a lei.
Para Rui Jorge Semedo, não há ninguém que possa afirmar que existem condições para fazer legislativas a 18 de novembro e, a insistir-se, criam-se "condições para a negação dos resultados eleitorais".
O analista político guineense considerou ainda que os cidadãos da Guiné-Bissau estão mais conscientes da sua cidadania e começaram a analisar o desempenho dos políticos, referindo-se às ameaças de boicote às eleições legislativas em várias zonas do país.
Deficiências do Governo
Segundo o politólogo, os jovens começaram a perceber a "deficiência e dificuldade do Governo em promover o bem-estar social" e em resposta começaram "neste momento, que é o exato, a enfrentar a classe política para ter um posicionamento mais responsável em relação às suas exigências".
Na Guiné-Bissau, considerado um dos países mais pobres do mundo, existem muitas carências ao nível das necessidades básicas, incluindo saúde, escolas, eletricidade, água canalizada, e falta de infraestruturas. "É uma situação de reivindicação que veio numa boa altura e é um elemento de pressão. Resta aos políticos criarem condições para assinar um pacto com essas populações, em Bissau e no interior", afirmou.
"Nós não podemos verificar a democracia só pela parte negativa, esta tomada de consciência dos cidadãos pode contribuir para melhorar o desempenho da classe política", considerou.