Tentativa de golpe de Estado dá 'um susto' à junta militar
30 de setembro de 2022Nas primeiras horas do dia ouviram-se tiros, nos arredores de Ouagadougou, a capital de Burkina Faso, próximo do palácio presidencial e do quartel-general da junta militar que lidera o país desde finais de janeiro deste ano, altura em que derrubou o então Presidente, Roch Marc Kaboré.
Em entrevista à DW África, Ulf Laessing, chefe do Programa Regional do Sahel na Fundação Konrad Adenauer (KAS), com sede no Mali, analisa os acontecimentos: "Pode ser um golpe de Estado, ou agitação dentro do exército. Pode também ser que nada disto tenha consequências e que o atual Governo militar continue no poder.
Numa publicação na rede social Facebook, a presidência burquinabê, liderada pelo coronel Paul-Henri Damiba, acusou certas unidades militares do país de estarem por detrás da perturbação.
Citado pela Agência France-Presse, o porta-voz do governo, Lionel Bilgo, garante que já estão em curso negociações para o restabelecimento da ordem no país.
Ataques jihadistas
Desde 2015, o Burkina Faso confronta-se com ataques jihadistas constantes em várias regiões do país. Estima-se que milhares de pessoas terão morrido e cerca de dois milhões estão deslocadas.
Em janeiro, quando Paul-Henri Damiba tomou o poder, prometeu restabelecer a segurança no país. Mas, para Ulf Laessing a situação piorou.
"O Burkina Faso encontra-se numa crise ainda mais profunda do que muitos pensavam”, disse Laessing, esclarecendo que "fora da capital e da segunda cidade do país, Bobo Dioulasso, a situação [de segurança] está na realidade quase fora de controlo".
'Damiba traiu o povo'
Dezenas de pessoas empunhando bandeiras do Burkina Faso e da Rússia, juntaram-se, esta tarde, no monumento de Thomas Sankara, nos arredores de Ouagadougou, para saudar o que consideram ser mais um golpe de Estado no país.
Uma das manifestantes, que se identificou como Mãe Pan-Africana, citada pela agência de notícias AP disse: "Estou feliz. Hoje é um dia de alegria. Se eu pudesse dar-me ao luxo de pagar uma vaca, abatia-a agora [em celebração]”.
François Beogo, ativista político do Movimento para a Tefundação do Burkina Faso, que também participou na manifestação, acusa o atual líder do país de traição.
"Damiba mostrou-nos os seus limites. Traiu o povo”, disse Beogo para quem "o povo esperava uma verdadeira mudança. Mas a nível diplomático, durante um período de crise, a nossa diplomacia foi muito passiva em vez de ativa”.
Apoio russo no combate ao terrorismo
Para combater o terrorismo no país, alguns burquinabês defendem o apoio russo. Mãe Pan-Africana é disso um exemplo.
"Queremos a Rússia e uma colaboração com o Mali. Queremos que o Burkina se liberte do povo francês. Abaixo com a França! A França nunca abandona um país por sua própria vontade", disse a manifestante, empunhando a bandeira russa.
A antiga Primeira-Ministra do Senegal, Aminata Touré, descreve a situação no Burkina Faso como preocupante.
Para a ex-governante senegalêsa "estas são situações que devem ser evitadas”. Touré recomenda um diálogo entre os atores políticos no Burkina Faso.
"Porque, para mim, o exército não é feito para governar um país. O exército é feito para garantir a segurança de um país”, disse Aminata Touré.
O Burkina Faso, a Guiné-Conacri e o Mali, todos membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estão sob liderança de juntas militares depois dos governos constitucionalmente eleitos terem sido derrubados por golpes militares.