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Cabinda: "Estamos a viver uma opressão muito grande"

Marta Cardoso
30 de novembro de 2020

Um dos nove detidos em Cabinda durante a manifestação do último sábado (28.11) falou à DW sobre a opressão policial. Pede ao Governo para dialogar com os cabindas que estão a ser tratados como “galinhas em capoeiras”.

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Angola Stadtansicht l  Cabinda
Cabinda, AngolaFoto: picture alliance/robertharding/M. Runkel

Mateus Tempo estava a caminho da manifestação de Cabinda no último sábado (28.11), que nem teve tempo para se "desencadear", como diz, quando foi detido pela polícia, juntamente com outros oito manifestantes, um deles seu irmão.   

O objetivo da polícia de expulsar os manifestantes e impedir o protesto foi cumprido, mas de uma forma violenta e repressiva.

"Bateram em alguns manifestantes, um levou com um chicote. Meteram-nos de uma forma bruta e violenta no carro, levaram-nos até à SIC [Serviço de Investigação Criminal de Angola] onde fomos intimidados" e ameaçados, relata o jovem de 23 anos, que foi ele próprio "gravatado": "Pegaram-me na gola e meteram-me no carro de uma forma desumana”, descreve.

Quando foram interpelados, a polícia acusou-os de não terem o direito de fazer a manifestação e que "poderiam manchar a reputação da província e criar vandalismo no local". Mateus, filho do advogado e ativista dos direitos humanos Arão Tempo, assegura que não era esse o objetivo.

Portugal Konferenz zu Wahl in Angola | Arão Bula Tempo, Anwalt
Dois filhos do advogado Arão Bula Tempo foram detidos no último sábado (28.11) em CabindaFoto: DW/J. Carlos

O que se reivindica em Cabinda?

Mateus Tempo garante que apenas pretendia reivindicar os seus direitos e as promessas que o Governo tem feito a Cabinda há mais de quarenta anos. Pretendia marchar, por exemplo, pelo direito de autodeterminação – que diz constar do artigo 12 da Constituição, alínea c) – e pela libertação dos três presos políticos de Cabinda que há mais de seis meses estão detidos: Maurício Gimbi, João Mampuela e João Bônzela.

"Estamos a viver uma opressão muito grande [aqui em Cabinda]. Basta sair à rua e ver o jeito como a polícia maltrata o povo… É triste. Portanto, nós também não pretendemos ficar tanto tempo calados a observá-los a fazerem o que bem entendem. Também somos humanos", observa.

O ativista apela ao Governo angolano a se pronunciar e sentar-se com os cabindas para dialogar e explicar "o porquê dessas situações".

"A paz aqui em Cabinda não se encontra. Nós vivemos um momento de muita tensão aqui na nossa província. De facto, o que nós temos assistido nas ruas infelizmente não é anda bom: tratamento desumano todos os dias, opressão, intimidações, prisões arbitrárias. Não se compreende porque os cabindas têm de levar uma vida tão cara. Tratam-nos como se fossemos galinhas numa capoeira", reclama.

A marcha deste sábado (28.11) em Cabinda não tinha sido autorizada pelo governo da província, que invocou as medidas de contenção da pandemia de Covid-19. Mateus Tempo diz que na altura da detenção viu pouco mais que as nove pessoas e que todas usavam máscara e cumpriam o distanciamento social exigido.

Os nove manifestantes detidos foram libertados no próprio dia mediante uma notificação para o pagamento de uma multa de 200.000 kwanzas (258 euros), que o advogado Arão Bula Tempo admite vir a impugnar.

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