Cabo Delgado: "Alguns terroristas podem estar infiltrados"
20 de setembro de 2021Em Moçambique, na província nortenha de Cabo Delgado, a reconquista de zonas como Mocímboa da Praia levou esperança à população que começa, aos poucos, a regressar a vilas devastadas por terroristas nos distritos de Macomia e Quissanga.
Mas apesar do sossego que começa a imperar, ainda há desafios. Em entrevista à DW África, o ativista social Abudo Gaforu Manana, da Associação Kuendeleya, relata o caso de rapto de civis em Quissanga. O responsável, que atualmente trabalha em Pemba, aborda ainda as dificuldades que a população encontra ao regressar às zonas de origem.
DW África: Em algumas regiões a população já começa a regressar para as suas zonas de origem. Quais são as maiores dificuldades que encontram?
Abudo Gaforu Manana (AGM): Tem ainda que se fazer um bom trabalho, que é a reconstrução. Muita gente encontrou as suas casas destruídas e os seus bens saqueados. Mas agradecem, porque conseguem ter sono e voltar a viver. Há uma situação gravíssima que é a falta de entrada de alimentação naquele ponto do país. Há pouca comida e pouca possibilidade de comida. Está muito cara. Os deslocados não têm sequer um centavo para poder comprar um quilo de arroz.
DW África: Em Quissanga, distrito onde a polícia nacional garantiu, na semana passada, estarem criadas as condições de segurança, houve relatos este fim de semana de raptos de civis. Tem conhecimento desses casos?
AGM: Nestes últimos dois ou três dias, acompanhámos o caso através de algumas fontes. Houve raptos de cerca de 10 pessoas que estavam a ir para a pesca. Não sabemos se estão vivos ou mortos, mas um dos pescadores que escapuliu, e fez a denúncia aos militares em Quissanga, diz que eram 10 membros que foram capturados nas extremidades de um lago. De ontem para hoje, foram encontrados dois corpos decapitados na região.
DW África: A par de uma certa acalmia depois da recuperação de algumas localidades, fala-se, no entanto, no perigo de insurgentes infiltrados entre a população e a dificuldade de se distinguir terroristas de civis.
AGM: Sobretudo aqui na cidade de Pemba, já tivemos este tipo de denúncias e este tipo de problemas no bairro de Metula. Alguns populares já se manifestaram contra as infraestruturas locais. Não se sabe, na verdade, o que estavam a reivindicar. Nestes últimos dias, as denúncias aumentaram muito e a vigilância também na cidade de Pemba. Há movimentos. Alguns terroristas podem estar infiltrados dentro do movimento dos deslocados.
DW África: Nesses casos, a falta de documentação dos deslocados pode prejudicar?
AGM: Direta ou indiretamente este tipo de situação está a influenciar bastante a possibilidade de haver infiltrados no sistema. Poder-se-iam chamar aqui os próprios chefes das zonas de origem dos deslocados, que poderiam ser utilizados para fazer o reconhecimento facial para saber se aquelas pessoas eram ou não residentes naquele ponto do país.
DW África: É verdade que minas e dispositivos explosivos estejam a ser usados pelos insurgentes?
AGM: Já tivemos alguns relatos que algumas regiões estão minadas, como Macomia e Mocímboa da Praia. Podem estar minadas e colocar em risco várias pessoas.