1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Capacitar jovens para "driblar" crise de representatividade

Delfim Anacleto
17 de fevereiro de 2022

Em Cabo Delgado, o Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) encerra esta quinta-feira (17.2), em Pemba, a primeira de várias formações para jovens moçambicanos em matéria de participação política. 

https://p.dw.com/p/479gj
Lançamento da Academia Democrática da Juventude em Pemba
Lançamento da Academia Democrática da Juventude em PembaFoto: Delfim Anacleto/DW

As capacitações em Pemba, Cabo Delgado, terminaram hoje e enquadram-se no lançamento da Academia Democrática da Juventude. É uma iniciativa que pretende "driblar a crise de representatividade juvenil" nas instituições democráticas de Moçambique. Defendem que "há cada vez menos a participação da juventude do país nos processos políticos e democráticos".

Trata-se de uma constatação do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) que nota, como consequência, um decréscimo acentuado da representação juvenil, nos últimos tempos, nos principais órgãos de tomada de decisão. Um exemplo: no Parlamento moçambicano, o principal órgão legislativo do país.

Estudo sobre participação política

Lorena Mazive, a gestora de projetos da organização não-governamental IMD, que atua para o fortalecimento da democracia multipartidária em Moçambique, explica, essa instituição conduziu um estudo em que analisou todas as dinâmicas sobre a participação política da juventude.

Lorena Maziva, gestora de projetos
Lorena Maziva, gestora de projetosFoto: Delfim Anacleto/DW

"Uma das coisas verificadas: ao nível das instituições democráticas, os jovens são o grupo que participam em menor quantidade. E a nível da Assembleia da República, na oitava legislatura, o número de jovens era de 49, num universo de 250 deputados", acresentou.

Atualmente, explicou a gestora, a Assembleia da República tem apenas 17 jovens, "algo que é muito preocupante", disse.

Isso é preocupante, principalmente para os próprios jovens, que se sentem, cada vez mais, à margem das oportunidades de aceder a estas instituições.

Origem da baixa adesão

Para Ivan Mazanga, presidente da Liga da Juventude da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, a baixa adesão de jovens à política moçambicana tem origem na história da criação do próprio Estado.

Mazanga explica, contudo, que o seu partido tem a preocupação de dizer aos jovens - independentemente da cor partidária - que existe uma exclusão dos mesmos da política, e que esta não contribui para o desenvolvimento do país.

Ivan Mazanga, presidente da Liga da Juventude da RENAMO
Ivan Mazanga, presidente da Liga da Juventude da RENAMOFoto: Delfim Anacleto/DW

"A exclusão gera violência. Como jovens do partido RENAMO acreditamos que temos que erradicar esta exclusão, que infelizmente continua, e acentua-se cada vez mais", diz.

Segundo o líder da Liga, a participação juvenil é importante para que Moçambique, e a própria juventude, possam atingir o desenvolvimento desejado.

Já Renato Mualega, da Liga da Juventude do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o segundo maior partido da oposição, alega fechamento das oportunidades aos jovens não filiados ao partido da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder em Moçambique.

"Os jovens estão divididos entre políticos partidários e não partidários, dentre os incluídos e excluídos. Esta divisão fragiliza visivelmente a construção da moçambicanidade", diz. 

"E o resultado dessa exclusão é que os jovens perdem-se e deixam-se aliciar. Cada vez mais perdem a esperança de viver no seu país como um lugar cómodo e buscam soluções marginais, que não agregam valor à nação", esclarece.

"Entendimento diferente"

Anchia Talapa, secretária-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), o braço juvenil da FRELIMO, tem um entendimento diferente. Acha que a participação política da juventude moçambicana "é uma realidade".

"Temos exemplos claros no continente e no mundo de que a juventude está a participar. Nos órgãos de tomada de decisão temos jovens. Vimos a nomeação de jovens para secretários de Estado, para cargos de ministros e vice-ministros, administradores", diz. E "isso encoraja a juventude - em outras áreas da governação, os jovens estão lá", defende.

Por sua vez, o Instituto para a Democracia Multipartidária quer ver os jovens moçambicanos membros de partidos políticos, de organizações da sociedade civil e aspirantes a políticos a ocupar os órgãos de tomada de decisão, diz Lorena Mazive.

"Todas as intervenções que a Academia Democrática da Juventude vai desenvolver serão também para consciencializar as lideranças dos partidos políticos. É preciso ter jovens em quantidade e qualidade nessas instituições", diz.

E uma vez representada nessas instituições, a juventude poderá "proteger e defender a sua própria agenda", acrescenta. "É importante que eles estejam efetivamente representados e, com isso, nós tenhamos eliminada a crise de representatividade que os jovens sentem", diz.

A iniciativa do IMD quer assegurar que jovens, com frequência excluídos dos processos políticos, sejam munidos de conhecimentos necessários para participar ativamente e contribuir para a consolidação e fortalecimento da democracia.