Cabo Delgado: Empresários "desesperados" com violência
19 de fevereiro de 2024"Nós estávamos a recuperar as nossas atividades, já tínhamos a esperança do regresso e da retoma", lamentou Mamudo Irache.
Para o presidente do Conselho Empresarial de Cabo Delgado, esta nova vaga de ataques terroristas, que se verifica desde dezembro, deixa as empresas da província apreensivas.
"Desde que começaram os rumores da retoma das atividades na bacia do Rovuma, a 'Jihad' intensificou as suas atividades, retomou a atividade do terrorismo na região, e isto trouxe grande desespero aos empresários da nossa província", observou, dando conta de camiões que chegam a ficar vários dias na vila de Macomia, região central de Cabo Delgado, aguardando por escolta para chegarem ao norte.
"É sentimental ver camiões e camiões retidos em Macomia, são custos que o empresário está a ter neste momento, sem saber quando é que vai terminar essa preocupação", continuou.
Por outro lado, Mamudo Irache lamenta a falta de apoio estatal aos empresários de Cabo Delgado, sobretudo os que foram afetados pelas ações terroristas: "Já ouvimos falar de vários apoios, mas nunca chegam ao empresário. Mas é o mesmo empresário inseguro com seus investimentos que está lá. Então, a situação para o setor empresarial não está boa".
Neste cenário, diz, os empresários de Cabo Delgado "estão a virar-se à sua maneira".
Para Assif Osman, empresário da longa data na província de Cabo Delgado, o cenário dos ataques não só preocupa as empresas locais como o resto do país, prejudicando a recuperação económica.
"Agora começavam a haver sinais de que o país, depois de ter passado por um período relativamente longo de preparação, de adaptação à nova realidade, estava em condições de fazer o arranque, e continuo a acreditar que está. Essas notícias não são nada encorajadoras. Mas volto a dizer, e quero frisar isso, que tenho esperança absoluta de que esta seja uma situação bastante pontual e que as nossas Forças de Defesa e Segurança rapidamente conseguirão ultrapassar", apontou o empresário.
Novos ataques
Populares do distrito de Chiúre, província moçambicana de Cabo Delgado, denunciaram hoje um novo ataque de grupos de insurgentes que provocou pelo menos quatro mortos e a destruição de várias infraestruturas.
Fontes das comunidades locais disseram à Lusa que os insurgentes atacaram no último sábado (17.02) a comunidade de Magaia, no posto administrativo de Mazeze, naquele distrito do norte do país, provocando quatro mortos entre a população.
Nas últimas semanas têm sido relatados casos de ataques de grupos insurgentes em várias aldeias e estradas de Cabo Delgado, inclusive com abordagens a viaturas, rapto de motoristas e exigência de dinheiro para a população circular em algumas vias.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou na semana passada a autoria de um ataque terrorista em Macomia, em Cabo Delgado, e a morte de pelo menos 20 pessoas. Tratou-se de um dos mais violentos ataques em vários meses.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.