FDS preparam-se para manter segurança em Cabo Delgado
25 de setembro de 2021O Presidente Filipe Nyusi garantiu este sábado (25.09), em Pemba, que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique estão a beneficiar de capacitação para responder ao desafio de manutenção da segurança e tranquilidade depois do fim das missões militares que apoiam o Estado no combate ao terrorismo na província nortenha de Cabo Delgado.
"Estamos a trabalhar em paralelo e não em série, de modo a combatermos o inimigo juntamente com os nossos amigos do Ruanda e da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral], enquanto isso decorre o processo de formação [das tropas moçambicanas]", assegurou o chefe de Estado moçambicano.
Filipe Nyusi respondia a uma questão colocada pelos jornalistas em Pemba numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo do Ruanda, Paul Kagame, sobre o que aconteceria no fim da intervenção militar estrangeira no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
A conferência de imprensa decorreu no âmbito das celebrações dos 57 anos da criação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, que se assinalam este sábado.
Ruanda não vai ficar para sempre em Cabo Delgado
Por seu turno, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, disse que o Exército do seu país não pode ficar para sempre na província de Cabo Delgado, onde atuam desde julho com as tropas moçambicanas.
"Por muito que não possamos estar aqui para sempre, penso que o problema com que estamos a lidar, com os nossos amigos em Moçambique, também não pode ficar aqui para sempre", disse Kagame na conferência de imprensa conjunta com o Presidente Filipe Nyusi.
"A cada passo, estamos a avaliar o que precisa de ser feito. A necessidade de ficar e por quanto tempo, isso surge naturalmente à medida que se faz progresso", acrescentou o chefe de Estado ruandês.
A missão do Ruanda tinha inicialmente a duração de três meses, mas na sexta-feira (24.09) Kagame disse que caberia a Moçambique determinar quanto tempo deveriam ficar.
Intervenção estrangeira
Os ataques armados no norte moçambicano iniciaram em 2017 e já causaram mais de dois mil mortos e cerca de 800 mil deslocados, segundo as autoridades. Várias vozes sugeriram que Moçambique pedisse apoio estrangeiro para debelar o extremismo violento que demostrava cada vez mais ousadia, com a ocupação de sedes distritais.
Entretanto, a intervenção de tropas estrangeiras só veio em julho deste ano com a entrada de contingentes militares do Ruanda e, em agosto, da Força em Estado de Alerta da SADC. Filipe Nyusi justificou a decisão com a necessidade compreender primeiro a natureza do fenómeno para melhor abordagem.
"Exigiu da nossa parte uma ponderação, uma suficiente inteligência para percebermos o que era o fenómeno. Já imaginou se nós disséssemos 'venha Egito, venha França', estaríamos numa situação de dizer venha sem sabermos vem fazer o quê... Não foi tarde. Foi oportuno, tínhamos de tomar a medida no momento certo não no momento de dúvida senão estaríamos a cometer um erro fatal", defendeu Nyusi.
Falando sobre a intervenção militar do Ruanda na normalização da situação de segurança no norte do país, o Presidente moçambicano esclareceu que a missão é fruto do convite feito por Maputo a Kigali.
"Na base da experiência, da prontidão, do relacionamento, nós achamos que estávamos prontos para trabalhar com o Ruanda. Já teve missões em diferentes momentos. Também estamos a atravessar uma fase de relacionamento ótimo, mesmo no âmbito de desenvolvimento regional em todas atividades. Das interações que temos tido ao longo dos tempos, havia condições criadas por isso houve essa prontidão", disse o chefe de Estado, que negou quaisquer informações de que a intervenção do Ruanda seja a mando de terceiros.
Resultados das operações
Com apoio militar estrangeiro, a tropa moçambicana tem vindo a somar resultados positivos no chamado Teatro Operacional Norte. Vários redutos dos terroristas foram desmantelados e pontos anteriormente ocupados foram recuperados, voltando ao controlo das autoridades governamentais moçambicanas.
O Presidente de Moçambique avançou que, enquanto prossegue a consolidação da segurança nas zonas antes alvos de incursões de terroristas, Moçambique empenha-se também em vetores como a assistência humanitária e a promoção do desenvolvimento.
Filipe Nyusi garantiu que "muitos deslocados que vivem em sítios onde não estão em condições, (...) um dia vão voltar".
"Temos tido uma abordagem humanitária internacional. Este vetor é ao mesmo tempo adicionado ao terceiro que é do desenvolvimento: nós temos que promover o desenvolvimento real, com transparência, com equidade, onde há igualdade social nos direitos, onde as pessoas sentem-se donas dos projetos. Por isso mesmo que, falamos do conteúdo local, mas também falamos não marginalizar as comunidades locais. Isso não só aqui na província de Cabo Delgado tem que ocorrer em todo [o país]", concluiu.