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Cabo Delgado: Nyusi critica cobertura jornalística

Lusa
12 de maio de 2021

O Presidente moçambicano pediu ainda, esta quarta-feira (12.05), no âmbito da tomada de posse dos novos membros do Conselho Superior de Comunicação Social, mais debates sobre a cobertura noticiosa dos media no país.

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Filipe Nyusi, Präsident von Mosambik
Filipe Nyusi (Foto de arquivo)Foto: DW

O Presidente moçambicano pediu, esta quarta-feira (12.05), respeito pela dignidade humana aos órgãos de comunicação social na cobertura da violência armada em Cabo Delgado, no norte do país, manifestando preocupação sobre "tendências para o desrespeito". 

"Se é naturalmente compreensível a procura a todo o custo de notícias e imagens sobre a violência terrorista, o jornalista e o órgão de comunicação social devem sentir obrigação moral de reportar respeitando as regras de dignidade humana", disse Filipe Nyusi, que falava durante a cerimónia de tomada de posse dos 11 novos membros do Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS) de Moçambique. 

Para o Chefe de Estado, a proliferação de órgãos de comunicação social no país propícia o desrespeito pela deontologia profissional e pela vida, situação causada pela busca de audiência. 

"A importância do sofrimento humano não pode ser reduzida a meros atos de competição para atrair audiências", declarou Nyusi, pedindo que os empossados criem debates sobre o assunto, para "resgatar alguns valores que lentamente vão-se perdendo". 

"Sente-se na nossa sociedade uma preocupação sobre tendências para o desrespeito pelos mais elementares princípios éticos e sociais. Vive-se o desrespeito pelos valores da família, dignidade da mulher e da criança pelos órgãos da comunicação social", apontou. 

Moçambique: Liberdade de imprensa em perigo

As declarações de Filipe Nyusi surgem numa altura em que continua desaparecido, desde 7 de abril de 2020, o jornalista Ibrahimo Mbaruco, da Rádio Comunitária de Palma em Cabo Delgado, e aumentam o número de casos de violação de liberdades de imprensa e de expressão em Moçambique. Um relatório recente do MISA dava conta que, em 2020, foram registados no país 32 casos de violações à liberdade de expressão, o maior número dos últimos cinco anos. As restrições ao trabalho da imprensa são também cada vez mais, principalmente em Cabo Delgado, assim como as críticas ao Governo.

Igreja Católica critica Governo

Entretanto, e num comunicado divulgado esta terça-feira (12.05), a Comissão Episcopal de Justiça e Paz, entidade da Igreja Católica em Moçambique, acusou o Governo de estar mais preocupado em proteger os projetos de gás natural em Cabo Delgado do que em defender as populações.

"A maior concentração na defesa do negócio de gás e petróleo em detrimento da defesa de vida de milhares de moçambicanos induz-nos a acreditar que a primazia do Estado é defender os lucros e bem-estar para um pequeno punhado de gente já abastada", referiu a comissão, numa declaração assinada pelo seu presidente e bispo de Nacala, Alberto Vera Arejula. 

A primeira luta seria pôr fim ao conflito armado, investir na área social e infraestruturas, bem como definir estratégias para uma exploração eficaz e segura dos recursos, defendeu a entidade. 

"Não há dúvida de que o país conta com muitas riquezas e matérias-primas, que podem ajudar a desenvolver economicamente o país e, por aí, desenvolver humanamente. Porém, o país não está preparado para gerir a exploração sustentável e humana destas riquezas", lê-se.

A Comissão Episcopal de Justiça e Paz apontou "interesses que se apoderaram da nação e dos seus recursos" como responsáveis pela violência armada na província de Cabo Delgado. 

No mesmo documento, a Comissão Episcopal de Justiça e Paz frisa que o Estado moçambicano não tem condições para enfrentar a guerra com as forças militares de que dispõe, alertando que "a vitória militar não seria uma resposta à complexidade da situação de Cabo Delgado".