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O relato de uma gestante que fugiu dos terroristas em Palma

DW (Deutsche Welle)
4 de abril de 2021

A DW África visitou o centro de trânsito de Pemba neste sábado (03.04), local que está a albergar deslocados provenientes de Palma, e registou histórias das vítimas do terrorismo em Cabo Delgado.

https://p.dw.com/p/3rZda
Mosambik Cabo Delgado | Flüchtlinge in Cabo Delgado nach Terror Angriff in Palma
Foto: DW

A jovem Maria* é uma gestante de nove meses que conta-nos como conseguiu escapar à barbaridade dos terroristas após o ataque a Palma, em Cabo Delgado. O tempo dificilmente poderá apagar as amargas memórias de dor de vítimas como ela, que presenciaram o ataque terrorista.

"Quando começaram os ataques eu estava na machamba, perto da minha casa. Eu não consegui regressar à casa. E, dali mesmo, comecei a fugir com outras pessoas para o mato. Eu não vi os bandidos, mas escutei os disparos e vi as pessoas a correrem. Juntei-me a elas e percorremos cerca de 100 quilómetros."

Sem família

Mosambik Cabo Delgado | Flüchtlinge in Cabo Delgado nach Terror Angriff in Palma
O complexo desportivo no bairro Alto Gingone tornou-se um centro de trânsito de centenas de pessoas.Foto: DW

O estado de saúde de *Maria inspira muitos cuidados. Ela está sem a sua família, em Pemba. O marido e o filho também conseguiram escapar durante o ataque, mas permanecem em Palma à espera da evacuação.

Sem parentes por perto, e com o dia de dar à luz a aproximar-se, ela pede auxílio. "Estou a pedir que me ajudem para, pelos menos, [meu bebé] conseguir nascer bem. Desejo que meu marido e filho consigam vir, para estarmos junto neste momento", desabafa a jovem mulher.

O complexo desportivo localizado no bairro Alto Gingone é hoje um centro de trânsito de centenas de pessoas que fugiram do fogo em Palma em busca de refúgio e, quem sabe, de um recomeço na cidade de Pemba.

Entre as vítimas, muitas mulheres e crianças que aguardam seu próximo destino, depois de serem desalojadas pela incursão terrorista, a 24 de Março.

"Eu já perdi dois filhos"

Mosambik Cabo Delgado | Flüchtlinge in Cabo Delgado nach Terror Angriff in Palma
Em Pemba, autoridades, organizações humanitárias e voluntários prestam assistência.Foto: DW

Os relatos de drama não param por aqui. Zuleika* teve de fugir a dois ataques. Primeiro, em Mocímboa da Praia, onde residia; e agora teve de fugir de Palma, onde se havia refugiado.

"Eu já perdi dois filhos. Uma menina, que não sei onde está, e outro [filho] que morreu em Pangane. Ele foi morto pelos bandidos."

Zuleika* está desesperada e pede ajuda para conseguir abrigo e recomeçar a vida - em qualquer canto do país.

Segundo o sociólogo Vasco Achá, parentes devem ter cuidado ao reencontrarem-se com os seus familiares deslocados. Como, por exemplo, evitar voltar a perguntar sobre os episódios vividos, porque, segundo ele explica, isso aumenta a dor e o seu sofrimento das vítimas.

"É preciso um jogo de paciência entre os familiares. Assim que eles chegam, a família não pode estar a fazer um vasto questionário sobre o que vivenciaram. Sozinhas [as vítimas], vão manifestando essa situação, durante as conversas. Isto porque [devido ao trauma], algumas pessoas poderão não conseguir dizer nada. Ou seja, podem ficar mudas", recomenda.

No centro de transito de Alto Gingone, foram criadas condições básicas para permitir a acomodação dos deslocados. Autoridades, organizações humanitárias e voluntários prestam assistência.

*PS: Os nomes das vítimas nesta reportagem foram alterados para proteção das mesmas.

A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado