Cabo Delgado: PRM alerta para "infiltrados" entre deslocados
10 de março de 2022A polícia moçambicana alerta para o aumento de infiltrados nas aldeias afetadas pelos ataques armados no norte de Moçambique, que fornecem informações de alvos a serem atacados pelos terroristas em Cabo Delgado.
O comandante provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cabo Delgado, Vicente Chicote, afirmou que os terroristas estão a recrutar os seus familiares para se inflitrarem nas comunidades, particularmente nas aldeias de reassentamento, fazendo-se passar por deslocados.
"Os terroristas que são chefes estão a tirar as suas famílias para se apresentarem aqui como pessoas que fugiram, enquanto estão a fugir à fome lá no mato. E essas pessoas, quando chegam às nossas aldeias e bairros, em vez de procurarem apenas alimentação, têm olhos para olhar mais outros sítios", apontou.
Estes familiares, continua Vicente Chicote, funcionam como "espiões" que localizam as zonas prioritárias a serem atacadas pelos grupos armados, "dão informações aos outros".
"Aqui tem comida, podem vir atacar, não tem problemas. Não tem polícia, não tem soldado aqui", exemplificou.
O comandante apelou, por isso, à "vigilância" da população. "Se nós não formos vigilantes, aqueles que hoje em dia estão lá em Macomia, em Mocímboa da Praia, em Quissanga hão-de chegar também aqui".
Vigilância não pode atropelar direitos humanos
Vicente Chicote exortou também para a necessidade de se prestar auxílio às vítimas da insegurança, porque, sublinhou, nem todos os deslocados são colaboradores dos terroristas.
O ativista social Abudo Gafuro concorda com as autoridades e afirma que é necessário impedir que as comunidades se tornem esconderijos de malfeitores: "O comandante Chicote fez bem [apelar à vigilância da população]. Isto é muito importante". No entanto, frisa que essa vigilância deve respeitar os direitos humanos: "Não podemos entrar em choque com a população [deslocada]".
Gafuro lembra que a prerrogativa de denunciar prováveis ligações com o extremismo violento pode resultar em discriminação e acerto de contas, com denúncias até de indivíduos sem quaisquer bases por mera vingança ou rivalidades.
Abudo Gafuro sugere, por isso, muita cautela e aprofundamento das investigações: "Temos de saber identificar quem é o terrorista e quem não é terrorista, se este é um deslocado normal. Temos de procurar saber o histórico [do deslocado], de onde vem, o que fazia, o que faz e porque veio para esta comunidade, qual é a intenção que faz com que venha aqui. Será que veio por segurança ou procurar a família, qual o objetivo nesta comunidade onde se quer integrar. É a isto que apelamos para que haja sobretudo o respeito pelos direitos humanos".
A Missão da SADC em Moçambique também apontou recentemente a estratégia de infiltração de terroristas nas comunidades que fogem da pressão da força conjunta na zona de combate. De acordo com o chefe da SAMIM, a colaboração da população, com foco nos líderes locais, tem permitido identificar esses casos.