Polícias querem descobrir colegas que ajudam terroristas
17 de abril de 2021Em Moçambique, "a inteligência militar deve funcionar, deve fazer um trabalho rigoroso para descobrir eventuais infiltrados", afirmou o presidente da Associação Moçambicana dos Polícias (Amopaip), Nazário Muanambane, em declarações à agência de notícias Lusa avançadas neste sábado (17.04).
Analistas e consultores em segurança têm alertado para uma possível colaboração entre alguns membros das Forças de Defesas e Segurança (FDS) moçambicanas com os grupos armados que atuam no norte do país, apontando a precisão e o momento dos ataques,bem como o facto de alguns terroristas usarem fardamento das forças governamentais como alegados indícios dessa cooperação.
Segundo o presidente da Amopaip, a neutralização de "agentes do inimigo" no seio das FDS é fundamental para "o fortalecimento da defesa e capacidade operacional" das forças governamentais.
Recolha de informação
"A guerra contra grupos armados e a criminalidade ganha-se também na recolha de informação e apanhando os traidores infiltrados no nosso seio", destacou Nazário Muanambane.
Por outro lado, a neutralização de membros das FDS que colaboram com "as forças inimigas" será igualmente importante para a moralização das forças governamentais.
"Quando os maus não são apanhados, os bons também são suspeitos e ficam desmoralizados. É importante tirar o 'peixe podre' antes que todo o 'peixe' fique contaminado", comparou o presidente da Amopaip.
Nazário Muanambane defendeu igualmente a necessidade de mobilização das populações para cooperarem com o Governo no combate aos grupos armados e à criminalidade, porque muitos dos "delinquentes são conhecidos pelas comunidades".
"Precisamos de ter as comunidades do nosso lado, porque conhecem cada um dos seus jovens, seu comportamento e é por isso que estamos disponíveis para apoiar na reativação dos conselhos de policiamento comunitário nas zonas em que há problemas", acrescentou.
Conselhos de policiamento comunitário
Os conselhos de policiamento comunitário, segundo o porta-voz, seriam uma grande ajuda no combate ao crime, porque os membros da comunidade que integram essas estruturas podem detetar comportamentos suspeitos e passar informação às autoridades.
Docentes e investigadores do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, universidade estatal moçambicana, alertaram há um ano - após os primeiros grandes ataques terroristas, com ocupação de sedes de distrito - para sinais de que as Forças de Defesa e Segurança do país não estão preparadas nem empenhadas para combater os grupos armados que atacam o norte de Moçambique.
"Cresce a desconfiança sobre o vazamento de informações para os terroristas, onde se verifica a colaboração de alguns militares", lia-se num documento, aludindo-se a suspeitas de "esquemas de corrupção no seio das forças", havendo "uma necessidade urgente de incrementar o efetivo, as tarefas, missões e funções da Polícia Militar".
Nesta sexta-feira (16.04), o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, pediu maior solidariedade ao povo moçambicano face à crise humanitária provocada pela violência armada em Cabo Delgado, e criticou a disseminação de falsas informações sobre o conflito, que ganhou nova escalada no mês passado, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
A violência em distritos mais a norte da província começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, de acordo com agências da Organização das Nações Unidas (ONU), e mais de 2.500 mortes, segundo uma contabilidade feita pela agência de notícias Lusa.