Cabo Delgado: O que faz a Força Local?
24 de maio de 2022João Mussa é o homem encarregue de comandar a Força Local no distrito de Nangade, um dos locais que ainda continua a registar ataques terroristas em Cabo Delgado.
Combateu durante cerca de 10 anos na luta de libertação nacional e desmobilizou-se após a conquista da independência. Mas a consciência patriótica levou-o a voltar a vestir a farda e a empunhar a arma, desta vez para lutar contra um novo e perigoso inimigo.
"Nós estamos decididos [a lutar contra os terroristas]. Até quando nós, os próprios pais, morrermos, os nossos filhos vão ocupar essa posição de elementos da Força Local. O nosso objetivo final é eliminar o inimigo [terroristas]”, disse à DW João Mussa, membro da Força Local.
Jovens também aderiram
Para além de antigos combatentes, a Força Local junta também jovens que, dia e noite, trabalham em toda a extensão territorial dos respetivos distritos para prevenir novos ataques através da vigilância, desmantelamento e perseguição de ações terroristas.
Embora enfrente dificuldades de ordem material, o grupo está determinado a não descansar até à eliminação completa da violência em Cabo Delgado.
"Estamos eliminando [os terroristas] aos poucos. E estamos a tentar acabar com eles", frisa.
A Força Local é suportada pela Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLIN) e trabalha em coordenação com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e as tropas estrangeiras que combatem os insurgentes no norte do país.
Governo admite importante ajuda
As autoridades reconhecem o trabalho da Força Local na estabilização de Cabo Delgado, numa altura em que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) admite que a ameaça terrorista ainda permanece. António Supeia, secretário de Estado nesta província, assinala que o empenho do grupo, em colaboração com as outras forças envolvidas no combate ao extremismo violento, tem permitido o restabelecimento da paz.
"Vocês trabalham debaixo da chuva, trabalham debaixo do sol, fazem grandes distâncias para combater e desalojar o terrorista. É por isso que hoje o terrorista anda de um lado para o outro. Vocês, de forma determinada e heróica, têm combatido o terrorista. O terrorista tem medo de vocês", refere o governante.
O trabalho da Força Local é também visto e aplaudido pelos habitantes de Nangade. Estes dizem que por culpa dos ataques muitos projetos e atividades ficaram estagnados. Aufi Apadre, um jovem residente, espera que, com a determinação dos que estão na linha da frente, dias melhores possam regressar ao distrito.
"Na qualidade de jovem, neste momento preocupa-nos a insegurança. Queremos que haja tranquilidade no nosso distrito para haver desenvolvimento para os jovens. Tivemos alguns jovens que faziam negócios aqui [em Nangade], que saíram por causa da situação e estão a desenvolvê-lo noutra zona, onde há segurança", comentou o jovem.
Mais de 784 mil pessoas fugiram desde o início dos ataques armados, em 2017, em Cabo Delgado, segundo estimativas da Organização Internacional das Migrações. Pelo menos, 4.000 pessoas morreram.