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Cabo Delgado: Sacerdote diz que é possível voltar a Palma

Lusa
9 de setembro de 2021

O padre Latifo Fonseca disse ontem que é possível voltar a habitar Palma, mas é preciso muita coragem. Em março, a população fugiu da vila e o megaprojeto de gás foi suspenso por causa dos ataques insurgentes.

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BG Mosambik | Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

O padre Latifo Fonseca, representante da Diocese de Pemba, Cabo Delgado, disse esta quarta-feira (08.09) que "em geral, pode-se dizer que, neste momento, mesmo que não tenha muitos serviços a funcionar, pode-se voltar, mas é preciso muita coragem, muita confiança, é preciso olhar com muita fé". 

Fonseca fez o pronunciamento após uma visita à vila na terça-feira (07.09), onde chegou por via aérea juntamente com militares.

Apesar de encontrar problemas de saúde e alimentação e sinais de destruição em habitações e edifícios, incluindo diversos espaços da igreja católica, disse que há população de regresso pelos seus próprios meios: "jovens felizes por voltar a Palma", referiu.

Latifo Fonseca 'Kwiriwi', sacerdote e missionário da Congregação da Paixão de Jesus Cristo, saudou o "bom acolhimento" das forças militares moçambicanas e do Ruanda (que a par de outros países da África Austral apoiam o combate desde julho), numa deslocação feita com capacete e colete à prova de balas.

Mosambik Buch "A Coragem e a Confiança em Deus: Luiz Fernando, Amor à Vida e à Missão"
Padre Latifo FonsecaFoto: Delfim Anacleto/DW

As carências

A viagem num avião militar Antonov levou 50 minutos de Pemba até à pista de Afungi, no empreendimento do consórcio investidor do gás liderado pela petrolífera Total, que serviu de base para o arranque da visita no terreno até à vila atacada onde o capim tomou conta de muitos terrenos, descreveu.

Mesmo antes de chegar a Palma, o sacerdote alertou para os "casos de malária, desnutrição e doenças diarreicas" em Quitunda, vila de reassentamento construída pelo megaprojeto de gás, que acolheu a maioria das pessoas em fuga de Palma, a cerca de dez quilómetros.

"No centro de saúde de Quitunda, no reassentamento oficial no âmbito dos novos projetos de exploração de gás, encontrámos muita gente. São os primeiros dias em que o centro é aberto para atender várias pessoas: os que já moram em Quitunda e os deslocados", sobretudo de Mocímboa da Praia e Palma.

As carências vão também sendo colmatadas por grupos locais de ajuda humanitária, referiu, como os que encontrou a alimentar crianças - que constituem cerca de metade da população afetada pelo conflito em Cabo Delgado.

Kigali, Ruanda | Soldaten aus Ruanda auf dem Weg nach Mozambique
Militares ruandeses destacados para Cabo DelgadoFoto: Simon Wohlfahrt/AFP

As declarações do representante da Diocese de Pemba surgem depois de o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ter anunciado na terça-feira (07.09) que os grupos armados que atuam na província de Cabo Delgado perderam "quase todos os espaços" que haviam ocupado.

Vida começa a voltar ao normal

O sucesso na guerra contra os grupos armados em Cabo Delgado, norte de Moçambique, conta desde julho com o apoio das forças governamentais do Ruanda, de uma missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), acrescentou.

A comunicações móveis em Palma começaram a ser reestabelecidas na última semana e decorrem diversos trabalhos de restabelecimento de infraestruturas e serviços.

Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

 O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.

  

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