Cabo Verde: Erradicação da malária resulta de boas práticas
12 de janeiro de 2024Cabo Verde tem, desde hoje (12.01), o "carimbo verde" no mapa da malária. O arquipélago foi certificado esta sexta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como país livre da doença. Cabo Verde é o terceiro país a ser certificado na região africana pela OMS, juntando-se às Maurícias e à Argélia.
Na Cidade da Praia, Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, agradeceu a Cabo Verde pelo exemplo: "Acredito que alcançar o estatuto de país livre de malária ficará na história de Cabo Verde como uma das suas conquistas mais significativas."
"A par da independência e da democracia, o vosso forte empenho político, a vigilância, a colaboração intersectorial coordenada, parceria e investimento para além do setor da saúde, tornaram possível esta conquista. Portanto, é um feito histórico e espero que inspire os países do nosso continente e de todo o mundo", acrescentou.
Desde o último pico de casos no final da década de 1980, a malária em Cabo Verde esteve confinada a duas ilhas: Santiago e Boa Vista, que estão agora livres da doença desde 2017.
A DW entrevistou a diretora Nacional de Saúde, Ângela Gomes, sobre a vitória de Cabo Verde.
DW: Qual é o significado da certificação para Cabo Verde?
Ângela Gomes (AG): É uma conquista muito grande para Cabo Verde, tendo em conta que sabemos que o programa de luta contra o paludismo é uma intervenção no âmbito de saúde pública e de todos os seus determinantes sociais. É uma grande conquista, não só por não haver casos, mas também demonstra que o sistema está preparado do ponto de vista técnico, de ponto de vista de respostas, principalmente de casos importados e a devida contenção de forma apropriada e sobretudo evitar complicações e mortes.
DW: Para a OMS, por exemplo, este é um farol de esperança para a região africana. Se tivesse que elencar dois ou três principais aspetos que levaram Cabo Verde a receber este certificado, o que destacaria?
AG: Eu apontaria, primeiro, que desde 2007 está na política nacional de saúde como objetivo a eliminação do paludismo. O segundo aspeto fundamental é a formação e investimentos feitos a nível de recursos humanos, a nível de estruturação do programa nacional de combate ao paludismo e a capitalização deste programa com recursos que vêm em grande parte do Fundo Global, mas também tem rúbricas assumidas pelo Orçamento Geral do Estado de Cabo Verde. Por outro lado, é o reforço que temos do Fundo Global, o sitema epidemiológico de vigilância, sobretudo o reforço dos cuidados de saúde como a porta de entrada e como contínuo de cuidados. Penso que essas valências levaram Cabo Verde a este patamar que abre novos desafios.
DW: E quais serão os próximos passos, por exemplo, para se manterem vigilantes e evitarem o ressurgimento da transmissão?
AG: Nós temos sempre primado pela transmissão de uma forma transversal, temos desafios, como é óbvio, no que tange à prevenção de transmissão já temos o plano de transmissão que teve origem em 2023-25, que tem de ser monitorizado e avaliado periodicamente. E a parte de recursos de uma forma sustentável e da manutenção de um sistema em alerta, com capacidade de diagnosticar e detetar precocemente todas as ameaças. Sabemos que temos com países endémicos, certamente que teremos sempre casos importados, mas a impedir que esses casos continuem a transmissão local. Manter sempre o país capacitado em termos e no que tange ao controle de qualidade, temos também de investir na vigilância, a resistência aos pesticidas é uma procupação. Já estamos a estabelecer as condições locais para elaborar um estudo de investigação nesse sentido para melhorar a performance no combate aos mosquitos. E obviamente teremos de investir na nossa capacidade de intervenções comunitárias na parte de comunicação e sensibilização.