Cabo Verde pede apoio ao FMI devido à "tripla crise"
24 de março de 2022"Tomámos a decisão de avançarmos com um novo programa com FMI, ancorado em quatro eixos fundamentais que vão priorizar a estabilidade a vários níveis - financeiros, dos preços, cambiais e macroeconómico -, a transparência, as reformas económicas para fazermos aumentar o potencial da nossa economia, e a inclusão social", anunciou esta quinta-feira (24.03) Olavo Correia, que é também ministro das Finanças, sem esclarecer se este apoio terá envelope financeiro.
A posição foi transmitida após a reunião final com a missão de acompanhamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), iniciada em 16 de março para contactos regulares com as autoridades cabo-verdianas e avaliação das consequências económicas da atual conjuntura internacional para o país.
"A situação económica atual de Cabo Verde é difícil. O país está a viver os impactos de uma tripla crise, sendo climática [mais de três anos de seca], da pandemia da covid-19 e agora pela guerra na Ucrânia. Este contexto tem impacto muito exigente sobre o quadro económico, o quadro orçamental, mas também sobre o rendimento das famílias", reconheceu.
Olavo Correia acrescentou que o Governo "tem de dar resposta célere a vários níveis neste contexto, sobretudo para entrarmos brevemente numa trajetória de retoma de atividade económica". "Neste contexto é muito importante que possamos contar com a colaboração do FMI", apontou.
FMI sinaliza apoio
O chefe da missão do FMI a Cabo Verde perspetivou hoje, no final desta reunião, que há condições para o organismo apoiar um "programa de reformas sólidas e credíveis" no arquipélago, pedido pelo Governo.
"Estamos confiantes que o FMI vai conseguir dar o seu apoio ao Governo cabo-verdiano no contexto de um novo programa de reformas económicas de Cabo Verde", afirmou, na Praia, o chefe da missão do FMI a Cabo Verde, Alex Segura-Ubiergo.
"Nos próximos dias vamos concluir as nossas discussões e estou confiante que vamos ter os elementos necessários para poder apresentar ao nosso conselho de administração um programa de reformas sólidas e cedíveis, que vai ajudar o país a enfrentar esta nova crise", acrescentou.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, anunciou, no Parlamento, que o FMI vai apoiar Cabo Verde com um programa de reformas, no contexto da crise económica, prevendo "condições muito favoráveis de financiamento".
"Vamos fechar um bom programa, que vai permitir, em condições muito favoráveis de financiamento, assegurar e garantir as condições para fazermos face a este embate, a crises acumuladas e ao mesmo tempo proporcionar reformas que são necessárias para aumentar a resiliência do país", afirmou Ulisses Correia e Silva, durante o debate mensal no Parlamento.
Inflação deve atingir nível "historicamente" elevado
O FMI alertou para o nível "historicamente" elevado da inflação em Cabo Verde, estimando que fique acima dos 6% este ano, e baixou a perspetiva de crescimento para 4%, devido à crise internacional.
"A inflação provavelmente vai atingir níveis superiores, historicamente muito elevados, entre 6 e 7%. São taxas comparáveis às que observamos nas economias avançadas, nos Estados Unidos, nos países europeus. Porém, preocupa-nos o facto de nos países em desenvolvimento o impacto da inflação habitualmente ser muito negativo sobre a população e sobre as famílias vulneráveis", alertou o chefe da missão Alex Segura-Ubiergo.
"Pensamos que em 2022 a economia cabo-verdiana vai retomar taxas de crescimento positivo, depois de uma recessão em 2020. Observamos já uma recuperação importante das taxas de crescimento em 2021, que atingiram taxas de 7%. Em 2022, a taxa de crescimento pensamos que vai estar à volta de 4%, uma redução, comparado com a previsão que tínhamos inicialmente, de 6%", acrescentou o chefe da missão do Fundo.