Cabo Verde preocupado com alterações climáticas
14 de novembro de 2017Apesar de ser realizada na Alemanha, a COP23 é presidida pelas ilhas Fiji, e não é por acaso. A liderança do arquipélago do Pacífico nas negociações simboliza um alerta: pequenos países insulares em desenvolvimento são os mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global.
Além de São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, Cabo Verde está entre os países insulares africanos mais afetados. "Em 2015 tivemos uma seca muito grande, em 2016 tivemos o furacão Fred e agora em 2017 estamos a sofrer novamente com a seca, que já está a provocar mortes nos animais e a por em causa a segurança alimentar”, admite o Diretor Nacional do Ambiente de Cabo Verde, Alexandre Nevsky Rodrigues.
Uma das principais preocupações de Cabo Verde é o financiamento do Fundo de Adaptação, mecanismo internacional que reúne contribuições de países desenvolvidos a países em desenvolvimento mais susceptíveis aos efeitos das alterações climáticas.
Na semana passada, a Alemanha ofereceu 50 milhões de euros ao Fundo, mas os Estados Unidos, que deixaram recentemente o Acordo de Paris, não pretendem pagar integralmente os três mil milhões de dólares que prometeram. A falta de financiamento é uma ameaça ao continente africano.
"Mais importante do que financiar as perdas e danos ou financiar a questão da adaptação, é termos os cortes de cada país, principalmente os desenvolvidos, ajustados relativamente às cotas de emissão”, acrescenta o responsável cabo-verdiano.
Plano ambicioso
Apesar de não ser um grande poluidor, Cabo Verde tem um plano nacional ambicioso para o cumprimento do Acordo de Paris. O documento, assinado por mais de 190 países em 2015, prevê esforços de cada Estado participante para evitar que o aquecimento global ultrapasse os dois graus Celsius nos próximos anos."Nós queremos chegar a 2030 com 100% de energias renováveis, ter todos os transportes do Governo elétricos e estamos a trabalhar na melhoria da gestão dos resíduos sólidos. Nós estamos a fazer um esforço enorme para mesmo com esta pouca contribuição conseguirmos reduzir ainda mais a emissão de gases com efeito de estufa”, diz Alexandre Nevsky Rodrigues.
Apesar do objetivo da COP23 ser estabelecer regras concretas para a implementação do Acordo de Paris, Cabo Verde critica o facto de se assistir à expansão do investimento em energias convencionais que têm limitado o avanço das energias renováveis que representam apenas 20% da matriz energética.
Simon Chin-Yee, investigador do King's College de Londres, destaca que as metas do Acordo de Paris também precisam de ser exequíveis para os países africanos.
"As metas nacionais têm de ser colocadas de uma forma mais viável para que sejam implementadas in loco em África. Os objetivos não devem ser muito amplos, mas ancorados nas especificidades dos países africanos. Estamos num regime de governação global na questão de alterações climáticas e isso precisa de se traduzir em capacidade financeira para que os países africanos cumpram suas metas nacionais", comenta.
Motor de desenvolvimento sustentável
Nigel Crawhall, chefe da secção de Pequenas Ilhas e Conhecimento Indígena da UNESCO, sublinha que, apesar de responderem por uma parcela irrisória das emissões, os países insulares de África estão a usar o combate às mudanças climáticas como um motor de desenvolvimento sustentável.
"Em muitas ilhas, usa-se combustíveis fósseis tradicionais para a produção de eletricidade, o que polui o ambiente e custa caro. Por isso, estão a investir em energia solar e eólica, o que os torna autónomas, pois não precisam de importar todos estes recursos”, frisa Nigel Crawhall.
"Como africanos, precisamos de nos concentrar numa estratégia energética, desenvolver tecnologias de energia limpa nas ilhas e, depois com o conhecimento, exportar para outras áreas. Esses países estão a ensinar-nos como fazer adaptações climáticas e esperamos que ganhem mais voz”, acrescenta.