Campanha eleitoral: A desilusão com a "FRENAMO"
2 de setembro de 2024No primeiro dia da campanha eleitoral, em Maputo, uma caravana da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) foi vaiada por populares no mercado Estrela Vermelha.
"Rua, traidores, rua", afirmavam.
Um pouco por todo país, o cenário se repete. Em Nacala, província de Nampula, o maior partido da oposição quase não encontrou ninguém no local escolhido para a realização do seu comício. Os poucos presentes exigiam que outro candidato presidencial, que não Ossufo Momade, apresentasse o seu manifesto em nome da RENAMO.
O analista político Wilker Dias diz que este "é o sentimento do povo. Se o povo apelida de traidores, tem os seus motivos", defende o analista.
"O facto de a RENAMO não ter, nos últimos tempos, um posicionamento que possa granjear mais simpatia ao povo pode ser o principal motivo para estas revoltas", avalia Dias.
Reconquistar o povo
Nas redes sociais, a RENAMO e o respetivo presidente, Ossufo Momade, têm sido alvo de críticas e acusações de se terem aliado à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), há quase cinquenta anos no poder. É por isso o partido voltou a ser chamado de "FRENAMO".
O especialista em Ciências Políticas Zefanias Namburete considera que a dinâmica política na RENAMO parou no tempo: "Neste momento, honestamente falando, a aceitação da RENAMO pela opinião pública reduziu bastante e a tendência das dinâmicas políticas, sobretudo deste partido, tende a parar."
O analista Wilker Dias tem pensamento semelhante. "A mística da criação do partido RENAMO e a essência, principalmente quando [o seu líder histórico] Afonso Dhlakama estava em vida, perdeu-se neste processo de transição", refere.
"Com Ossufo Momade, as coisas são diferentes, os discursos são menos oposição e são mais a favor do regime do dia. É por este motivo que temos a população a olhar contra o posicionamento da RENAMO a nível da cidade", conclui.
Ainda assim, Dias entende que há esperança salvaguardada no amor ao partido de muitos membros e simpatizantes, "que pode salvar a RENAMO".
Mas "se for para RENAMO reconquistar, vai ter que ser mesmo com ações enérgicas. Ações e não palavras", argumenta.