Campanha eleitoral em Moçambique manchada por violência
11 de setembro de 2014Casos de vandalismo de material propagandístico, aproveitamento de panfletos para efetuar assaltos e violência entre apoiantes dos partidos políticos marcam a campanha eleitoral em Moçambique, doze dias depois do seu início. O diretor da organização não-governamental Observatório Eleitoral, Anastácio Chembeze, lamenta a situação e suspeita que a violência vai aumentar.
"A experiência mostra-nos que, quanto mais próximos do dia da votação, mais os ânimos aumentam. Isso pode contribuir para o aumento da violência", diz Chembeze.
O analista moçambicano Egídio Vaz discorda. "Não acredito que a violência se venha a agravar ou, pelo menos, que seja pior daquela que aconteceu até aqui". Para que isso se verifique, segundo Vaz, é crucial a intervenção dos políticos que participam na campanha – o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, pediu "civismo e tolerância"; o líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, também já apelou a uma caça ao voto sem violência.
"A intervenção dos políticos pode mitigar de sobremaneira a continuação destas práticas, porque as marcas de uma violência estrutural são bem recentes", afirma o analista.
Painéis de resolução de conflitos chegarão a tempo?
A maior parte dos casos de vandalismo e violência acontece fora dos centros urbanos, onde escasseiam estruturas de controlo e até a autoridade do Estado não se faz sentir como noutros lugares.
A criação de painéis de resolução de conflitos poderia ajudar a pôr cobro à situação, refere Anastácio Chembeze, do Observatório Eleitoral.
"Estamos a discutir com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) o estabelecimento desses painéis – um mecanismo de diálogo entre as partes envolvidas para ajudar a dirimir os conflitos e, principalmente, apelar a uma maior calmia", diz Chembeze. Nesses comités participariam representantes dos partidos políticos, dos órgãos de gestão eleitoral, da sociedade civil, da polícia e ainda líderes influentes de cada zona.
No entanto, quase um terço da campanha eleitoral já está cumprido e urge aprovar essa comissão de arbitragem. O diretor do Observatório Eleitoral reconhece que ela poderá chegar tarde, mas está certo de que não é difícil estabelecer tal estrutura desde que as pessoas que podem contribuir para ela sejam rapidamente chamadas.
Quem não acredita na funcionalidade dessa comissão é o analista Egídio Vaz.
"Não penso que vá, de facto, ajudar", diz. "Acredito muito no poder da informação das lideranças e no compromisso inequívoco dessas lideranças ao nível partidário. É a mesma estrutura do poder. Se a mesma estrutura do poder não consegue conter isto, ao nível da campanha, então será difícil que estas estruturas de bairro, estruturas extra-políticas, consigam fazê-lo."
Atos isolados
Segundo relatos da imprensa moçambicana, vários atos de vandalismo e violência são protagonizados por simpatizantes da FRELIMO, o partido no poder. Nenhuma das partes ouvidas pela DW África acredita que os atos sejam intencionais.
"Creio que é coincidência", diz Egídio Vaz. "A FRELIMO é um partido grande e, no seu seio, há uma amálgama de visões. As zonas em que estes atos estão a acontecer, no sul do país, são zonas que sempre foram violentas e hostis à oposição. Creio que, por isso, a FRELIMO acaba por ter de trabalhar muito mais para tomar as rédeas e enviar uma mensagem inequívoca aos seus membros para se absterem de qualquer manifestação de violência."
Analistas locais previam que esta seria a caça ao voto mais violenta da história do país, devido aos confrontos militares entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO, a maior força da oposição. Serão as feridas dos conflitos a causa de tal violência?
"Acho que não", afirma o analista Egídio Vaz. "Todos os atores políticos, incluindo os cidadãos, estão conscientes da necessidade de mantermos a paz tal como está."