Aline Frazão promove álbum "Insular" na Alemanha
17 de novembro de 2016"É importante que os artistas participem e reflitam sobre o tempo em que vivem. Uma responsabilidade desses e das pessoas com dom musical, pois para mudar as coisas é preciso participar socialmente. Afinal, para exercer a cidadania não basta votar”, disse em entrevista à DW a angolana após seu concerto.
Assim como os dois primeiros álbuns da cantora, "Insular" mantém o carácter político, social e crítico. O disco foi produzido por Giles Perring e lançado em outubro de 2015.
Aline Frazão atua há três anos em várias cidades da Alemanha. Ainda que boa parte do público alemão em seus shows não compreenda a língua portuguesa, a cantora diz ser uma plateia curiosa, aberta, generosa e sensível.
Ela confessa até mesmo estar a aprender alemão para interagir com o seu público e diz que esse aprendizado é “uma experiência enriquecedora” para a sua carreira.
“Estão muito atentos e durante o concerto há sempre um público muito caloroso, ao contrário do que se pode esperar. A maioria não sabe nada sobre Angola, então acabam por situar-se um pouco mais e aprendendo sobre a cultura musical do nosso país”.
Público alemão
A cantora angolana diz sentir-se bem recebida na Alemanha e considera que há muito espaço, muita disponibilidade, muita abertura do público para receber os artistas angolanos. Mas sente-se contente quando sabe que há compatriotas seus na plateia. “Isso cria uma ligação, cantores sentem um apoio a mais nesses casos”, ressalta.
A jovem artista diz tentar não pensar em sua próxima obra, porque o disco atual ainda tem muito para dar; mas confessa: “às vezes tenho um bocado de pressa para fazer os meus discos, mas são ideias vagas no meu subconsciente sobre coisas que eu gostaria fazer por isso não consigo evitar pensar nisso”.
A angolana explica que “Insular”, nome de uma das canções do seu álbum, que foi a primeira a ser cantada no concerto em Bona, é na verdade a história de alguém que vai para uma ilha em busca da paz, porém ao ver-se tão isolado descobre que o exílio não é a solução decidindo, assim, regressar.
“É uma história meio poética, uma música atmosférica. Depois, várias coisas me foram levando fora e me colocando assim neste campo semântico de ilhas”.
Política vs. bloqueios
Em entrevista à DW, Aline Frazão diz não esperar grandes mudanças para as próximas eleições em Angola e acredita que o MPLA continuará a ganhar por muitas razões; mas, para ela, seria bom que o partido se desenvolvesse mais. Que houvesse compromisso e que regressassem aos seus valores inicias - como um movimento que muito fez pela história do país.
“Em Angola, todos sabem que deveria ser feito mais e isso seria possível se assim o quisessem. Com vontade política para desenvolver as condições básicas que, sabe-se, estão mal. O partido poderia se renovar. Novas lideranças, cabeças frescas e novas ideias que realmente se dedicassem em solucionar os problemas”.
Aline diz ter alguma esperança nos debates durante a campanha [para as eleições de 2017 em Angola] e anseia que se levantem assuntos importantes, porém sem medo: “precisamos ultrapassar nossos bloqueios e também o complexo. O bloqueio de não querermos falar dos temas incómodos, pois apenas falando sobre eles é que o país poderá crescer. Se esse for o nosso objectivo comum, então teremos de falar”, conclui a cantora.