Casa Branca: João Lourenço e Joe Biden vão conversar
29 de novembro de 2023"As alterações climáticas, a energia e o corredor do Lobito" deverão ser os temas em discussão no encontro entre João Lourenço e Joe Biden, avançou o embaixador dos Estados Unidos da América em Angola, Tulinabo Mushingi.
Mas reina algum ceticismo sobre os resultados da reunião.
Em relação ao clima, por exemplo, Bernardo Castro, responsável da organização não-governamental Rede Terra, teme que se estabeleça objetivos demasiados ambiciosos, sem ter em atenção as necessidades atuais de desenvolvimento da indústria de Angola.
"Porque ainda há uma visão colonial em relação à transição climática", afirma Castro.
"Justiça climática"
O Presidente João Lourenço prometeu 70% de energias renováveis em Angola, até 2025. A energia hidroelétrica desempenha um papel crucial nestes planos.
Além disso, o país aposta numa nova energia, para exportar: O hidrogénio verde. No entanto, para já, continua a estar altamente dependente das exportações de petróleo.
O ambientalista Bernardo Castro diz que é tempo de falar de "justiça climática". E isso "não se resolve fora de Angola, resolve-se cá dentro", comenta.
"É aqui onde temos os nossos problemas, é aqui onde temos que descentralizar as formas de formação e tomada de decisão, e é aqui onde temos de procurar redistribuir melhor os recursos, sobretudo beneficiando aquelas pessoas que são vítimas das explorações dos recursos naturais."
Corredor do Lobito
Sobre o comércio, o economista Nataniel Fernandes desconfia que os Estados Unidos estão interessados em retirar vantagens económicas à China no projeto do corredor do Lobito - uma linha férrea que ligará a costa angolana às minas na República Democrática do Congo, passando pela Zâmbia.
"Na disputa com a China, o corredor do Lobito é um ativo bastante importante - especialmente, para retirar minérios do Congo que são essenciais para a disputa económica da América com a China", lembra o economista.
Mas João Malavindele, coordenador da organização não-governamental Omunga, com sede no Lobito, província de Benguela, diz que também é preciso tematizar as violações de direitos humanos em Angola.
"Neste momento, há pessoas detidas e condenadas por uma questão de consciência. E é importante que os norte-americanos tomem em consideração todas estas questões", diz.
Liberdade de expressão
João Malavindele refere-se aos ativistas Adolfo Campos, Gildo da Silva Moreira "Tanaece Neutro", Abraão Pedro Santos e Hermenegildo André, condenados a quatro anos e seis meses de prisão por ultraje ao Presidente da República. Cita também duzentos cidadãos - incluindo mulheres, crianças e idosos – que foram detidos na província da Lunda Sul, a 8 de novembro, por alegada desordem pública.
E esta não é a única queixa da Omunga, há também "a questão do fechamento dos espaços cívicos com a criação de leis que põem em causa a existência de organizações da sociedade civil de exercerem, de forma livre, as suas atividades", acrescenta Malavindele.
Esse seria um ponto a acrescentar na agenda do encontro entre Joe Biden e João Lourenço, defende o ativista.