Caso Cebolinha: "Como é possível que jovem morra torturado?"
4 de agosto de 2023O jovem Masscar Abacar, conhecido por "Cebolinha", morreu depois de exigir o pagamento de uma dívida. Uma empregada do estabelecimento onde se encontrava chamou a polícia, que o deteve na hora. As versões sobre o que aconteceu a seguir divergem.
A família e organizações da sociedade civil dizem que Cebolinha foi brutalmente espancado pela polícia até à morte, na sétima esquadra, em Maputo.
Cebolinha foi "vítima de tortura policial", denunciou o ativista Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD).
"Como é possível que um jovem morra torturado nas celas da Polícia da República de Moçambique? Isto é crime", acrescentou Nuvunga.
A versão da corporação é bastante diferente.
"Derrame cerebral"
O porta-voz da polícia na cidade de Maputo, Leonel Muchina, garantiu, pouco depois da morte de Cebolinha, a 25 de julho, que o jovem morreu devido a um derrame cerebral.
"Este jovem não foi de forma alguma violentado nesta unidade policial", assegurou Leonel Muchina.
Uma unidade sanitária em Maputo teria até solicitado à família do jovem "para prestar estes depoimentos de que o seu ente querido teria perdido a vida diante de um derrame cerebral", acrescentou o porta-voz.
O ativista Naldo Chivite, da Rede dos Defensores de Direitos Humanos, conta que esteve com o jovem Cebolinha dias antes da sua morte: "Por isso é que digo claramente que é pura mentira que ele estava doente."
"Pura mentira"
"É pura mentira", insiste Chivite. "Eu estive com o Cebolinha, conversámos e ele estava muito bem de saúde. Essa é uma manobra que está a ser criada pela polícia para justificar a sua ação."
Citada pela imprensa, a mãe do jovem, cujo nome não foi avançado, disse que viu um dos polícias a torturar Cebolinha, na sétima esquadra. "Tiraram-lhe a roupa, bateram-lhe, deitaram-no no chão e molharam-no com água fria. Ele estava sem camisola, sem manta, sem nada", afirmou.
Apelo a justiça
O defensor dos direitos humanos Naldo Chivite diz que, face a este e outros casos, a impressão com que fica é que "há uma orientação clara para violar os direitos humanos" em Moçambique.
"Não se percebe como é que um país como Moçambique, que ratificou vários acordos internos e internacionais, viola na sua maior magnitude os direitos humanos dos cidadãos."
Chivite pede justiça no caso Cebolinha, embora tenha pouco esperança.
"Ouvimos muitas vezes a polícia a afirmar que vai agir contra os agentes [responsáveis por abusos], mas nunca vemos nada", lamenta.