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"Caso Kalupeteka" por esclarecer há quatro meses em Angola

António Rocha12 de agosto de 2015

A UNITA continua à espera que seja criada a comissão de inquérito que solicitou para esclarecer as mortes no Huambo. PGR já terá admitido veracidade de vídeo sobre a morte de um fiel da seita publicado pelo partido.

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Foto: Reuters/Coroado

Quase quatro meses após os acontecimentos no Huambo, o caso da seita "A Luz do Mundo", liderada por José Kalupeteka, continua a fazer correr muita tinta. Segundo várias fontes em Angola, o assunto está longe de ser concluído, uma vez que várias interrogações continuam sem resposta.

Nos confrontos ocorridos a 16 de abril no Huambo, a Polícia Nacional confirmou a existência de 13 vítimas mortais entre fiéis da seita religiosa "A Luz do Mundo" e a morte de nove agentes da polícia. Outros relatórios referem uma centena de mortos, enquanto a oposição angolana contabilizou mais de mil mortos.

Em finais de abril, a UNITA solicitou à Assembleia Nacional a abertura urgente de um inquérito parlamentar aos confrontos. O pedido foi feito na sessão parlamentar de 21.04, maioritariamente dedicada ao caso.

Agora, um novo dado novo vem juntar-se ao "dossier". O procurador-geral da República de Angola, José Maria de Sousa, terá admitido que é verdadeiro um vídeo publicado pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que mostra um polícia a abater à paulada um fiel da seita, como contou em entrevista à DW África Raúl Danda, líder parlamentar do maior partido da oposição angolana.

DW África: Em que circunstâncias o procurador-geral da República de Angola admitiu que é verdadeiro o vídeo publicado pela UNITA sobre os incidentes no Huambo?

Raúl Danda (RD): Isso aconteceu numa altura em que o procurador-geral da República, na companhia do ministro do Interior e do diretor dos Serviços de Investigação Criminal (SIC), foram até à Assembleia Nacional falar com o presidente e os vice-presidentes da Assembleia Nacional e com os presidentes dos grupos parlamentares, altura em que nos apresentaram um vídeo sobre alguma coisa que supostamente os jovens revolucionários, aquele grupo dos 15, estariam a preparar, para fazer uma sublevação no país.

Raul Danda
Raúl Danda, líder parlamentar da UNITAFoto: DW

E, na altura, eu disse ao procurador-geral da República e ao ministro do Interior que teria sido de bom tom que também nos tivesse sido prestada informação relativamente ao caso do monte Sume. O ministro do Interior tentou dizer que as imagens não eram verdadeiras, mas o procurador-geral da República acabou por conformar que as imagens são verdadeiras, na medida em que o polícia que aparecia no vídeo a matar à paulada um cidadão já tinha sobre os ombros um processo-crime. Isso, de facto, é demonstrativo de que reconhecem que o vídeo é verdadeiro.

DW África: A comissão parlamentar de inquérito exigida pela UNITA está ou não a funcionar?

RD: A comissão parlamentar nem sequer foi criada. Ou seja, sob a capa de que o caso está sob segredo de justiça e que há um trabalho em curso para averiguar a situação, a Assembleia Nacional não aceitou que a comissão parlamentar de inquérito fosse sequer criada. Pasma-nos esse comportamento na medida em que não sei de que segredo de justiça se estará a falar quando o próprio procurador foi à Assembleia Nacional para explicar as coisas aos deputados. O corpo diplomático acreditado aqui em Angola foi convocado pelo ministro das Relações Exteriores (Georges Chikoti) para que o ministro do Interior (Ângelo Veiga Tavares) pudesse explicar as mesmas coisas aos embaixadores acreditados aqui. Onde é que está o segredo de Justiça?

Aliás, o Governo dizia que tinham sido mortos nove polícias -primeiro não havia civis mortos. Mais tarde o Governo admitia terem sido mortos 13 civis. Muito mais tarde ainda, num telefonema que me foi feito pelo próprio governador [da província do Huambo], Kundi Paihama admitia que tinham sido encontrados outros corpos noutras localidades circunvizinhas. Não estou a ver como é que se podia dizer que, de facto, havia alguma coisa que os deputados não pudessem saber. Justificava-se, aliás, que se criasse esta comissão parlamentar de inquérito para se apurar a verdade. E é necessário que essa verdade se apure.

DW África: Há notícias de que alguns elementos da seita foram libertados, mas continuam a ser perseguidos. Será verdade?

"Caso Kalupeteka" por esclarecer há quatro meses em Angola

RD: A informação que temos é que, de facto, os membros da seita Kalupeteka muito infelizmente continuam a ser perseguidos. Há pessoas que aparecem nos vídeos, há pessoas que fizeram depoimentos que estão gravados, há polícias que fizeram as gravações. Nós gostaríamos que essas pessoas continuassem vivas para poderem testemunhar.

É verdade que têm estado a ser perseguidas desde aquele fatídico dia de abril, quando tudo começou. E temos relatos de que há pessoas que desapareceram, inclusive nas aldeias. Pessoas que são "puxadas" das aldeias por supostas ligações com Kalupeteka e que depois fazem viagens sem regresso a casa.

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