CEDEAO aberta para negociar regresso de membros
29 de janeiro de 2024O anúncio foi feito nos três países ao mesmo tempo, através da leitura nos órgãos de comunicação social estatais de um comunicado conjunto. No Níger, coube ao Coronel Amadou Abdourahamane, porta-voz da junta militar, dar a notícia ao país.
"Assumindo plenamente as suas responsabilidades perante a história e respondendo às expetativas e preocupações das suas populações, os dirigentes do Burkina Faso, do Mali e do Níger decidiram, em plena soberania, retirar com efeitos imediatos os seus países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental", disse.
No mesmo documento, os líderes das juntas militares acusam a CEDEAO de, "sob influência estrangeira”, ter traído os seus "princípios fundadores".
No Mali, foi o coronel Abdoulaye Maïga, porta-voz do Governo, que se dirigiu à nação: "A organização não prestou assistência aos nossos Estados no combate ao terrorismo. Pior ainda, quando decidimos tomar o nosso destino pelas nossas próprias mãos, a CEDEAO adotou uma posição inaceitável ao impor sanções ilegais, desumanas e irresponsáveis, violando os seus próprios estatutos”.
Os golpes de Estado ocorridos nos três países levaram à imposição de sanções por parte da CEDEAO. No Níger, por exemplo, o bloco ameaçou levar a cabo uma ação militar no terreno para restabelecer a democracia.
CEDEAO aberta para "negociar uma solução”
Reagindo em comunicado ao anúncio deste domingo (28.01), a CEDEAO fez saber estar aberta para "negociar uma solução”, uma vez que, acrescentou, os três países são "membros importantes para a Comunidade”.
No entanto, a organização admitiu que "continua ciente da situação e fará mais declarações mais tarde dependendo da evolução da situação".
A CEDEAO defendeu o seu trabalho, afirmando que, "de acordo com as instruções recebidas da Assembleia de Chefes de e Estado e de Governo, a Comissão da CEDEAO tem trabalhado arduamente com os países envolvidos com vista a restaurar a ordem constitucional".
Nas ruas de Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, as opiniões dos moradores sobre a decisão dos três países divergem.
Claude Bado, residente em Ouagadougou diz o seguinte: "Para mim, é uma decisão precipitada. Se a CEDEAO tivesse pedido a estes países que saíssem era uma coisa, mas sair por conta própria é ousado e não é bom para as populações”.
Para Georges Karama, também de Ouagadougou, "é uma iniciativa notável que a população esperava há muito tempo. Os princípios estabelecidos na criação da CEDEAO já não estão a ser cumpridos. É de saudar esta decisão”.
Desde que passaram a ser governados por juntas militares, o Burkina Faso, o Mali e o Níger estão cada vez mais próximos da Rússia e afastados do Ocidente. Recentemente, tanto as tropas francesas como a missão de manutenção de paz da ONU foram obrigadas a abandonar o Mali, onde há registo da presença do grupo de mercenários russo Wagner.