Centro de Moçambique sob risco de epidemias após ciclone
23 de março de 2019Em Moçambique, o Ministério da Saúde assegura que tem um plano de prevenção e de reação para o caso de eclosão de doenças no contexto do ciclone Idai. Entretanto, os hospitais ficaram parcialmente destruídos, mas as autoridades do setor dizem que mesmo assim continuam a prestar assistência e que o facto de as pessoas estarem a juntar-se em centros de acolhimento minimiza riscos de eclosão de doenças.
Águas paradas por longos períodos e o consumo de água imprópria propiciam o surgimento de doenças diárreicas. E é este o cenário que se vive na região centro de Moçambique desde a última semana, na sequência do ciclone Idai.
O que está por vir preocupa os voluntários que coordenam as ações de solidariedade. Carlos Serra, da Associação Repensar, é um deles. "Proteger as pessoas contra o que ai vem, que é sério em termos de drama humano. Sabemos que as águas vão permanecer e há riscos de epidemias: cólera, diárreias, malária", alerta Serra.
O coordenador afirma estas doenças "serão um problema sério nos próximos tempos". "Temos de estar unidos para podermos dar ajudar as pessoas que estão nas zonas de risco".
Risco de epidemias
O Ministério da Saúde reconhece que é uma possibilidade eminente. Concorriam para isso a dispersão das vítimas do ciclone. A diretora nacional adjunta de Saúde Pública, Maria Benigna Matsinhe, fala no risco de eclosão de doenças de origem hídrica dentro de cerca de duas semanas. Mas o acolhimento das vítimas em centros ajudaria a minimizar os riscos.
"Nos centros de acomodação o que o setor da saúde está a fazer, para além da ações educativas e da distribuição de certeza (um purificador de água), temos um plano que já foi elaborado pelo ministério que poderá levar algum tempo e passa pela realização de uma campanha de vacinação contra a pólio", avança a diretora, que garante já ter solicitado as vacinas à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda de acordo com Maria Benigna Matsinhe, a vacinação vai ocorrer de qualquer forma, mesmo se o Ministério da Saúde não receber as doses de vacinas a tempo de uma campanha preventiva. "Se não conseguirmos, por causa do tempo que pode levar ao país e o tempo a que as pessoas estão expostas ao vibrião, iremos realizar a campanha de qualquer das formas. Ela poderá ser peventiva, se chegar antes da eclosão. Mas se tivermos a eclosão da cólera, faremos de forma reativa, mas já temos este plano".
Unidades sanitárias danificadas
Fora os centros de acomodação de emergência, onde se presta assistência temporária, as unidades sanitárias convencionais ficaram severamente danificadas, o que dificulta a assistência médica.
O edil da cidade da Beira, Daviz Simango, contou à DW África as dificuldades que enfrentam: "Os hospitais não têm energia. Muitas das análises de controle e exames médicos que requerem corrente elétrica não estão a ser feitos agora porque o Hospital Central da Beira, que é o hospital mãe e regional, neste momento não tem energia e por isso não pode fazer diagnósticos. Há muitos doentes que estão a morrer e há doentes que estão a voltar para a casa exatamente porque não se consegue fazer o diagnóstico por falta de energia".
E uma vez despreparadas, como vão as unidades sanitárias cumprir as suas funções neste momento particularmente difícil? A diretora nacional adjunta de Saúde Pública, Maria Benigna Matsinhe, afirma que "é muito difícil dizer que não iremos trabalhar. Se for ver, temos o Hospital Central da Beira que também sofreu danos, mas continuamos a trabalhar".