Chega quer deportação de ilegais - imigrantes contestam
2 de outubro de 2024O discurso anti-imigração do presidente do Chega, André Ventura, é demagogo. É a reação do ativista guineense Yussef, que critica a "ideia de deportação" de imigrantes envolvidos na criminalidade defendida pelo líder daquele partido da extrema-direita em Portugal.
Ventura lançou o repto numa manifestação no passado domingo (29.09) em Lisboa contra a imigração ilegal e descontrolada facilitada durante a governação socialista. Contra uma "política de portas escancaradas", o executivo social-democrata, no poder, fala de medidas equilibradas para regular o fluxo migratório.
"Eu tenho a certeza que, todos os que aqui estão, estão a sentir como eu estou a sentir, que o país nos está a escapar das mãos. Estamos a perder o controlo das nossas ruas, das nossas cidades, vilas e aldeias. Estamos a perder o controlo das terras que eram nossas", afirmou André Ventura, líder do Chega, partido da extrema-direita.
Numa praça da capital, Ventura dramatizou em voz alta receios dos portugueses devido a problemas de insegurança trazidos para Portugal por aquilo a que chama de "imigração ilegal e descontrolada".
"E hoje até em ruas e em aldeias, [onde] há uns anos nós não víamos senão paz e tranquilidade, agora o que vemos é caos absoluto, tiroteios e facadas à luz do dia, e criminalidade à luz do dia."
Ventura disse que o seu partido não é contra a imigração regulada e criticou a política de "abertura de porta a todos" os cidadãos estrangeiros. "Nos últimos anos, a nossa estratégia não foi receber bem. A nossa estratégia foi a de receber toda a gente e de qualquer maneira", afirmou.
"Expulsão de imigrantes"
E, na onda destas palavras acesas, André Ventura foi mais além, em defesa de um maior controlo da imigração e da identidade de Portugal que, segundo as suas palavras, "tem que estar em primeiro lugar". Para o líder do Chega, quem "comete crimes deve ser devolvido à sua terra".
"Como diz aquele cartaz que ali está: ‘Expulsão de imigrantes que cometam crimes em Portugal. A esses, sejam eles quem forem e donde vieram, nós dizemos deportação."
O imigrante guineense, Yussef, ligado ao movimento associativo em Portugal, esteve no último domingo numa contramanifestação no Largo do Intendente. Ele diz que o tema de imigração é extremamente complexo e afirma que o discurso de André Ventura "é de uma grande demagogia", porque o Chega tem a sua agenda no contexto da extrema-direita na Europa.
"E tendo em conta essa situação, quando se fala de crime tem que se abrir logo a porta da deportação, não entendendo que o crime é um facto social e que há um conjunto de situações políticas e económicas que não diria justificam a criminalidade, mas explicam a criminalidade. Por isso não há nada de surpreendente no discurso do Chega neste momento."
Yussef concorda que deve haver regras, mas lembra os vários apelos de patrões e empresários de que a imigração é necessária. Lamenta, por outro lado, não haver em Portugal sindicatos que defendem a mão-de-obra imigrante indispensável à economia portuguesa.
"Isto tendo em conta que, por exemplo aqui em Portugal, não há sindicatos que defendem especificamente o direito dos imigrantes. Este é um tema que também devia ser levantado. Os sindicatos [portugueses] muitas das vezes não distinguem situação de trabalhador imigrante e de trabalhador nacional."
Além de ser favorável a políticas específicas para os trabalhadores imigrantes, Yussef propõe a criação de sindicatos que defendam os seus direitos. "E para que os imigrantes possam ter realmente a sua voz própria neste combate."
Ainda esta semana, o Governo português, pela voz do ministro da Presidência do Conselho de Ministros, António Leitão Amaro, já veio a público dizer que não adopta uma política de extremismos, sem precisar, no entanto, se contraria as posições do Chega. A reação de Leitão Amaro, em declaração aos jornalistas, surgiu com críticas aos partidos de esquerda que, segundo as suas próprias palavras, "transformaram Portugal num país de "portas escancaradas".