China-África: Fórum arranca com promessas de investimento
3 de setembro de 2018Para o chefe da diplomacia chinesa, Wand Yi, esta é a maior cimeira de sempre, "uma manifestação de importância mundial que a China aguarda com entusiasmo".
Há nove anos que o país é o principal parceiro comercial de África. E os números são impressionantes: segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as trocas comerciais entre a China e o continente africano rondavam os 10 mil milhões de dólares no ano 2000. Dezassete anos mais tarde, o número chega quase aos 200 mil milhões. E, ao mesmo tempo, aumenta o investimento directo chinês nos países africanos.
"A China tem sido muito importante no âmbito do nosso novo programa de desenvolvimento", confirma o ministro da Economia e Finanças da Libéria, Augustus Flomo. "A Libéria precisa sobretudo de infraestruturas, de desenvolver a rede eléctrica, de modernizar o sistema de saúde", especifica.
Em entrevista à emissora estatal chinesa CGTN, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, sublinha que o Fórum China-África significa grandes oportunidades: "Tem um enorme potencial para beneficiar todos os envolvidos. É por isso que estamos muito empenhados em criar uma parceria forte com a China nesta iniciativa."
Na mesma entrevista, Kenyatta apela à abertura dos mercados entre a China e África, frisando que as políticas proteccionistas terão um impacto negativo na vida dos africanos.
Chineses destruíram mercados africanos
Mas se os produtos chineses entram com facilidade no continente, o mesmo não se pode dizer dos produtos africanos no mercado chinês, lembra o economista da Universidade de Leipzig Robert Kappel.
"Na verdade, Uhuru Kenyatta teria de criticar a China, que subsidiou exportações de empresas estatais e multinacionais que destruíram os mercados africanos - com produtos baratos - desde bicicletas a lanternas, velas e frigoríficos", sublinha o especialista, lembrando ainda que o comércio livre com a China também prejudicou a industrialização dos países africanos.
Robert Kappel alerta ainda para a dependência dos Estados africanos em relação à China, devido aos empréstimos concedidos por Pequim para a realização de grandes projectos: "A China está a fazer grandes empréstimos para projectos de infraestruturas como as linhas ferroviárias Djibouti-Addis Abeba e entre Mombasa e Nairobi. Estas obras são muito caras e os Estados têm de as pagar, os chineses não estão a dar presentes". O problema, salienta, é que "muitos países africanos estão a cair na armadilha da dívida."
Cooperação com os PALOP
O Fórum de Cooperação China-África arranca com promessas de investimentos millionários de Pequim. Angola, por exemplo, espera o culminar das negociações para uma nova linha de crédito de 11 mil milhões de euros, para financiar vários projetos, entre eles, o novo aeroporto internacional de Luanda.
Em Pequim, onde a cooperação bilateral centrou o encontro que o Presidente de Angola, João Lourenço, manteve este domingo (02.09), com o homólogo da China, Xi Jiping, na véspera do III Fórum de Cooperação China-África. Segundo a agência noticiosa angolana Angop, que não adianta mais pormenores, o encontro decorreu no Palácio do Povo.
Entidades de Moçambique e da China já assinaram em Pequim oito memorandos de entendimento, nas áreas das infraestruturas, indústria, telecomunicações, agricultura e serviços financeiros, durante um fórum de negócios inaugurado pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. A construção de uma estrada entre a província do Niassa e a Tanzânia e parques industriais em Boane e Marracuene, na província de Maputo, são alguns dos projectos previstos nos memorandos.
São Tomé e Príncipe estreia-se nesta cimeira, juntamente com o Burkina Faso e a Gâmbia, que elevam assim para 53 o número de nações africanas com relações com a China. O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, leva na bagagem um projeto para a construção de 300 apartamentos para funcionários públicos e espera conseguir investimento chinês.