Em São Tomé e Príncipe, produção de chocolate gera emprego
4 de agosto de 2016A época áurea da produção de cacau em São Tomé e Príncipe ficou para trás. Atualmente, a produção do país, que chegou a 12 mil toneladas por ano, gira em torno de três mil toneladas anuais.
Mas se o volume já não é tão grande, a qualidade pode compensar. Não por acaso, é produzido em São Tomé um chocolate que ganhou reconhecimento internacional como um dos melhores do mundo. O responsável é Cláudio Corallo que investe na produção artesanal do chocolate que leva seu nome.
O italiano de Florença começou seus experimentos com o cacau da ilha do Príncipe em 1994. Desde 2002, Cláudio Corallo fabrica e vende chocolate de luxo, feito com o cacau de suas plantações e reconhecido internacionalmente. Engenheiro agrônomo, buscava uma explicação.
"Isso era um laboratório de pesquisa. Nunca pensei na vida em produzir chocolate," revela Corallo.
"Quando decidi experimentar o cultivo do cacau, queria produzir um cacau de qualidade como era o meu café no Zaire [hoje República Democrática do Congo] e na Bolívia. Em toda fava de cacau que experimentava, encontrava amarguras que, na minha maneira de ver, eram amarguras derivadas de defeito de transformação. Não eram amarguras naturais," recorda o italiano.
A busca pelo cacau perfeito
Na tentativa de descobrir o motivo do "defeito" da fava do cacau, Cláudio Corallo se empenhou numa grande pesquisa de mercado. Decidiu ele mesmo plantar o fruto na Ilha do Príncipe e chegou a um método para acabar com o sabor amargo.
Corallo explica que a semente é plantada diretamente no campo. "Fazemos um grande trabalho de poda das árvores de sombra, porque precisa de uma sombra alta e, porque aqui é muito úmido e calor, precisa de vento e de circulação do ar," descreve.
A plantação do cacau é feita em conjunto com um grupo de agricultores, "porque o cacau tem que ser fermentado e tem que ter uma massa mínima de produção".
A quantidade de cacau necessária para a fermentação é um dos segredos que Cláudio Corallo não revela. Depois de fermentar e secar, o cacau vai para a fábrica, em São Tomé, onde passa por uma seleção dos grãos.
"É separado por tamanho, calibragem. Escolhido, claro. Torrado, descascado manualmente - um por um - moído e fazemos o chocolate," relata o italiano.
O segredo, segundo ele, é o cuidado do início até o fim. "Cada mínima falha penaliza o produto final," diz.
Mão de obra local
O trabalho minucioso é feito com a colaboração de trabalhadores santomenses que o próprio Cláudio Corallo se encarregou de formar. Em todo o processo, da plantação do cacau na Ilha do Príncipe até a fabricação do chocolate na capital, ele emprega cerca de 250 pessoas.
Diz que a formação é constante. "Trabalho com a gente e constantemente melhoramos e progredimos, mas damos a possibilidade a todos de chegar onde querem e podem chegar," garante.
"Trabalhamos juntos. Não é que se faz uma aula de formação. Estou junto no campo com a gente. Como bate-se com o machim, como pode-se afiar o machim com o martelo e com uma pedra. A formação é esta," acrescenta Cláudio Corallo.
Há 18 anos, Arlindo Rocha trabalha com Cláudio Corallo. Começou como carpinteiro e se tornou o chefe da chocolateria, responsável por coordenar uma equipa de 13 pessoas. Aos 54 anos, conta o que mudou de lá para cá.
"Tentei alargar minha casa. Com mais algum esforço, com algum dinheiro, consegui arranjar um carro. Estou a dar estudo aos meus filhos. Hoje já tenho um filho na 12ª, o outro está na 9ª classe. Alguma coisa está a seguir," avalia.
Também Daytejac de Assunção viu muita coisa mudar, desde que conseguiu seu primeiro emprego na fábrica de chocolate Cláudio Corallo, há 12 anos. No início, trabalhava na produção do chocolate. Há dois, conquistou a responsabilidade de fazer a contabilidade da empresa.
"Ajudo a pôr os dados sobre o nosso chocolate no caderno e depois fazemos a contabilidade no computador. Esse é o meu trabalho agora," descreve.
O segredo do sabor do chocolate de Cláudio Corallo
O grande sucesso de Cláudio Corallo, diz ele, se deve à dedicação de cada funcionário na preparação de um dos melhores chocolates do mundo, "porque quando nós fazemos o melhor cacau, 60% do nosso chocolate já está feito".
O italiano descreve o produto como "fresco e vivo", em que se "reconhece o perfume do campo. Não é um produto morto com cheiro de baunilha".
A produção da fábrica de chocolate de Cláudio Corallo é pequena: 150 quilos por dia, no máximo. Apenas 14 produtos figuram no portfólio, Apenas 14 produtos figuram no portfólio, com preços a partir de 10 euros por 100 gramas de chocolate, no mercado internacional.
A jornalista Cristiane Vieira Teixeira viajou às ilhas santomenses a convite da Direção Geral de Turismo e Hotelaria de São Tomé e Príncipe, com apoio da companhia aérea portuguesa TAP Portugal.