Ciclone: Dois mortos e estragos no norte de Moçambique
26 de abril de 2019Até ao momento registou-se uma vítima mortal na cidade de Pemba devido à queda de um coqueiro e ainda há outra vítima na vila de Macomia. As regiões mais afetadas por este ciclone de categoria quatro estão a ser as províncias de Cabo Delgado e Nampula.
Os ventos fortes - a chegarem aos 270km por hora - e as chuvas intensas começaram no início da noite passada (25.04). Informações preliminares apontam para elevados estragos nas províncias referidas anteriormente, com casas destruídas e famílias ao relento no arquipélago das Quirimbas, nomeadamente na ilha do Ibo, e ainda nos distritos do continente de Quissanga, Mucojo, junto à costa, e Macomia.
"O clima que se vive aqui é de desespero e preocupação porque as pessoas perderam as suas casas", disse um residente da vila do Ibo à DW. "Foi um ciclone devastador, porque cerca de 95% das casas existentes na ilha do Ibo ficaram destruídas, afetando a maior parte as suas coberturas."
Primeiros relatos
Ao princípio da noite, a situação era relativamente calma em Mocímboa da Praia e Palma, a norte do corredor de passagem prevista do ciclone, assim como na capital provincial, Pemba, a sul do trajeto previsto, disseram várias fontes contactadas pela Lusa.
"Os efeitos do ciclone tropical Kenneth ainda não se fizeram sentir como se previa ontem primeiro dia, talvez hoje até às 12h00. Mas o mesmo não se pode falar de Cabo Delgado, onde os danos continuam aumentar. Há corte de comunicação com alguns distritos, casas e outras infraestruturas danificadas", relata Sitoi Lutxeque, correspondente da DW em Nampula.
O jornalista Delfim Anacleto também presente no terreno descreve a situação na cidade de Pemba. "Desde das 20h00 de quarta-feira, em Pemba, em particular, temos registado chuvas intercalares e ventos fortes. Há registo de queda de árvores. Neste momento a cidade de Pemba está sem corrente eléctrica. Outro destaque é a tendência de subida das ondas."
As autoridades moçambicanas anunciaram ter evacuado as zonas de risco de cheias desde a ativação do alerta vermelho, na quarta-feira (24.04), transferindo cerca de 30 mil pessoas para mais de 30 centros de acolhimento, a maioria instalados em escolas. Anacleto testemunhou também esse trabalho de prevenção e aviso das populações.
"As pessoas foram alertadas, inclusive numa ronda que efetuámos ontem. Conseguimos cruzar com a viatura do Instituto de Comunicação Social com um megafone que informava todos os bairros sobre as medidas que podiam tomar para poderem dirigir-se para locais previamente indicados. Estamos a falar de escolas e outros centros de acolhimento", precisou.
ONU pronta para ajudar
Os centros de acomodação da cidade de Pemba albergam cerca de dez mil famílias retiradas dos bairros considerados propícios à ocorrência de deslizamentos e inundações. Mas uma das principais reclamações apresentadas nestes centros é a falta de condições.
"Estamos a dormir no chão, não temos nem esteira nem nada. Só estendemos as nossas capulanas e dormimos com as nossas crianças. Queria que nos apoiassem com cobertores e aumentassem a comida, porque há mais pessoas que estão a chegar", afirmou uma mulher num dos centros.
As Nações Unidas estimaram esta sexta-feira a necessidade de uma nova operação humanitária em larga escala para responder à passagem do ciclone Kenneth por Moçambique, numa altura em que a ajuda aos afetados pelo ciclone Idai permanece "criticamente subfinanciada". "O ciclone Kenneth pode requerer uma nova operação humanitária em larga escala ao mesmo tempo que a resposta ao ciclone Idai, que visa 3 milhões de pessoas em três países, se mantém criticamente subfinanciada", afirmou hoje o sub-secretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência, Mark Lowcock.
O coordenador Humanitário das Nações Unidas em Moçambique, Marcoluigi Corsi, disse que a organização já tomou medidas e está de prevenção para responder ao ciclone Kenneth. "A ONU mobilizou uma equipa que já está em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, e colocou bens de ajuda para assistir a população dos distritos que poderão ser afectados”.
Um representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) anunciou na rede social Twitter que, apesar das precauções que estão a ser tomadas, "não há muito que se possa fazer para evitar que este desastre aconteça". Segundo Daniel Timme, na quarta-feira foram enviados para o terreno especialistas da área da saúde, nutrição, água, saneamento e proteção de crianças.
"Será crucial que estas pessoas estejam lá para trabalhar com as organizações de emergência do país para organizar a primeira resposta", afirmou o representante, acrescentando que é muito importante "preparar bens que serão transportados da Beira para o norte, mas também de Maputo para o norte."
Prevê-se que a intempérie diminua de intensidade no continente, logo depois de deixar de ser alimentada pelas águas quentes do oceano Índico, mas que, ainda assim, produza elevada precipitação, suficiente para causar cheias repentinas que podem ser violentas nalguns locais.
Artigo atualizado na sexta-feira (26.04) às 22h01 (CET).