Ciclone: Mais de 200 mil ainda vivem em casas destruídas
28 de abril de 2020A verba total esperada ascende a 113 milhões de dólares (104 milhões de euros) e serviria para responder a um orçamento de apoio humanitário pós-Kenneth até maio deste ano, incluindo ajuda devido à violência provocada por grupos armados na região - e sem incluir verbas governamentais.
"Um ano após o ciclone tropical Kenneth atingir o norte de Moçambique, mais de 390.000 pessoas receberam assistência crítica, como alimentos, água potável e abrigos", destaca a ONU.
No entanto, a situação na região "deteriorou-se nos últimos meses", lembram as Nações Unidas. "Inundações em dezembro de 2019 e janeiro deste ano obrigaram mihares de pessoas a deslocar-se e infraestruturas chave foram danificadas, exacerbando as necessidades de mais de 200.000 pessoas que ainda moram em casas destruídas ou danificadas e outras 6.600 pessoas ainda em tendas", refere o levantamento.
Insegurança em Cabo Delgado
Ao mesmo tempo, há alertas sanitários: em fevereiro, um surto de cólera foi declarado na ilha do Ibo e nos distritos de Macomia e Mocímboa da Praia, sendo que a maior zona de construção do país, o megaprojeto de gás da Área1, concentra o maior número de casos registados de covid-19 no país (cerca de 50).
"Tudo isto acontece tendo como pano de fundo a insegurança em Cabo Delgado, que já afetou pelo menos 162.000 pessoas e provoca sucessivos deslocamentos, inclusive em áreas ainda a lutar para recuperar do ciclone Kenneth", acrescenta.
O Fundo Central de Resposta a Emergências das Nações Unidas já tinha alocado 10 milhões de dólares para a resposta ao ciclone Kenneth e destinou este mês sete milhões adicionais para responder às necessidades.
O ciclone atingiu Moçambique em abril de 2019 e matou 45 pessoas no norte do país.
Resposta humanitária deve ser mais longa e resiliente
A resposta humanitária a desastres naturais como o ciclone Kenneth tem de mudar e passar a reerguer melhor as comunidades, em vez de as deixar vulneráveis como antes, alerta um relatório do Instituto para a Transição Social e Ambiental-Internacional (ISET), uma organização não-governamental (ONG) norte-americana.
Segundo o documento, o apoio deve permanecer, ser mais longo e transformador, em vez de ser forte apenas no momento de acudir à emergência. "Especialmente diante de uma mudança climática, precisamos de fazer uma transição mais rápida da nossa resposta humanitária inicial para uma resposta holística que integre, a longo prazo, a redução de riscos e promoção de desenvolvimento", lê-se no relatório intitulado "Quando o que não tem precedentes se torna antecedente".
Um dos objetivos do documento é não deixar que os ciclones de 2019 caiam no esquecimento, mas que deles nasçam lições, listadas e detalhadas pelos autores. O relatório reconhece que "nos países onde a vulnerabilidade das condições socioeconómicas converge com a degradação natural do ambiente e um clima em mudança, o processo para construir com resiliência e reduzir riscos será longo e árduo, mas necessário".
Por isso, defendem os autores, será importante para "interromper os ciclos de pobreza e para impedir as comunidades de recuar para os estados anteriores de vulnerabilidade" de cada vez que há um desastre natural, fazendo com que a ajuda humanitária signifique progresso inabalável.
De acordo com o levantamento realizado em Moçambique, após os ciclones Kenneth e Idai - incluindo neste último caso o Zimbabué e Malawi -, a ONG diz que será necessário "alterar práticas no nível da comunidade, através da diversificação de meios de subsistência, facilitando a construção de abrigos, trabalhando com as comunidades para desenvolver sistemas de alerta inclusivos e melhorar a localização de equipamentos de manutenção".