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"Muitas fotografias, poucos resultados palpáveis"

Thomas Kohlmann / cvt, gcs30 de outubro de 2015

Terminou esta quinta-feira (29.10) a maior cimeira Índia-África de sempre. O Governo indiano precisa do apoio dos países africanos para obter petróleo e gás e conseguir um assento permanente das Nações Unidas.

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Foto: Reuters/A. Abidi

Foi uma cimeira de superlativos: Cerca de mil delegados estiveram presentes na maior conferência realizada na Índia desde 1983. Nunca houve tantos líderes políticos e funcionários de alto escalão africanos juntos numa mesma cimeira como nesta semana em Nova Deli. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, quer estreitar ainda mais os laços com continente - sobretudo para garantir matérias-primas e aumentar as exportações para os mercados africanos.

Porém, o dinheiro oferecido na maior cimeira Índia-África de todos os tempos não vai de encontro à pomposidade dos discursos: Modi anunciou investimentos em África equivalentes a 550 milhões de euros. No final do evento, que reuniu 41 líderes de 54 países africanos, o primeiro-ministro ofereceu ainda um empréstimo de nove mil milhões de euros, a juros baixos, divididos por um período de cinco anos.

"A Índia sente-se honrada por ser um parceiro para o desenvolvimento de África", afirmou o anfitrião Narendra Modi, sob juras de uma parceria sem segundas intenções estratégicas e económicas.

Para o analista Arndt Michael, da Universidade de Friburgo, que estuda as relações entre a Índia e África há anos, esta é a "típica retórica indiana".

Dr. Arndt Michael
Arndt Michael: "É a típica retórica indiana"Foto: privat

Em resumo, "há muitas fotografias simbólicas, mas poucos resultados palpáveis." Michael diz também que as promessas de uma cooperação mais estreita, tal como as declarações de interesses comuns, deveriam ser encaradas com prudência.

"Temos, de um lado, o tigre de papel chamado União Africana (UA) e, do outro, um país com um possível crescimento económico de 7 por cento, mas que enfrenta vários problemas - ou seja, uma organização dividida e um membro dos BRICS, que dispõe de um moderado poder económico e onde há muitos problemas intestinos. Não se pode esperar muito."

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Carro elétrico para transportar os delegados do continente rico em matérias-primasFoto: Getty Images/AFP/P. Singh

Matérias-primas à vista

A vontade de Modi é que a Índia se torne numa "nova China" em África, particularmente no que diz respeito às matérias-primas. O país já importa 70 por cento do petróleo e gás que precisa e, nos próximos 15 anos, poderá ter de importar até 90 por cento, segundo Arndt Michael.

A Índia não teria outra opção senão garantir o fornecimento de matérias-primas do continente africano - há demasiada instabilidade política no Médio Oriente para assegurar a 100 por cento o petróleo e gás de que necessita. A democracia e os direitos humanos desempenhariam um papel secundário no cálculo indiano: em Nova Deli, foi inclusive estendida a passadeira vermelha ao Presidente sudanês, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e contra a humanidade e acusado de genocídio no Darfur. O Governo indiano deu a entender que esse é um assunto que não diz respeito ao país, até porque a Índia não é membro do TPI e não é obrigada a entregar Bashir.

Interesses tangíveis

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Na cimeira Índia-África, o primeiro-ministro Narendra Modi apelou a um apoio mútuo quanto ao dossier "reforma das Nações Unidas".

"As nossas instituições não podem representar o nosso mundo se não derem voz a África, que engloba mais de um quarto dos membros das Nações Unidas. É por isso que a Índia e a África devem falar a uma só voz pela reforma das Nações Unidas, incluindo o seu Conselho de Segurança", afirmou Modi.

A Índia pediu aos líderes africanos que a apoiem na sua campanha para ter um assento permanente num Conselho de Segurança alargado.

A "nova China"?

Mas será que a Índia conseguirá ultrapassar a China no continente africano, como pretende o Governo de Modi? Desde 2008, o país investiu em África o equivalente a sete mil milhões de euros; já a China diz ter injetado no continente, só em 2013, 23 mil milhões de euros em investimentos diretos. A receita chinesa é simples: Construir estradas e infraestruturas em troca de acesso aos mercados e às matérias-primas.

"A China está em larga vantagem", comenta o analista Arndt Michael. "A Índia tem boas hipóteses no setor dos serviços tecnológicos, uma área em que poderão aumentar bastante os negócios com o continente africano. Mas os números falam por si: O volume da troca de mercadorias entre a Índia e África ronda os 70 mil milhões dólares. O comércio da China com o continente atinge os 200 mil milhões de dólares."

Mosambik Chinesische Baufirma in Afrika
China em vantagem: construtora chinesa em MoçambiqueFoto: DW/J. Beck

Jakkie Cilliers, diretor do Instituto para Estudos de Segurança em Pretória, na África do Sul, diz categoricamente que "a Índia e a China não vão desenvolver África."

"A China e a Índia procuram mercados futuros e fazer crescer a base comercial e industrial doméstica. É tudo interesse. África poderá extrair o máximo de benefícios dessas relações", afirma Cilliers.