Cimeira do G7 vai discutir cooperação com África e guerras
12 de junho de 2024Fortalecida e bem disposta com o bom resultado das eleições europeias do passado domingo (09.06), a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, populista de direita, vai à cimeira do G7. A Presidência italiana está a organizar a reunião do "Grande Sette”, como é chamado em italiano o grupo das sete nações mais ricas do mundo, no isolado hotel de luxo "Borgo Egnazia”, na zona rural da Apúlia, entre os típicos olivais da região.
Meloni ajudou a organizar muitos dos pormenores da "sua cimeira”, como ela lhe chama. Quer apresentar o sul de Itália do seu lado mais bonito e mostrar que algo está a acontecer economicamente naquela região, outrora mais pobre, também graças aos generosos fundos da União Europeia (UE) que estão a chegar a Itália através do fundo de recuperação da pandemia. Para além de Itália, o G7 inclui os Estados Unidos (EUA), o Canadá, o Japão, a França, o Reino Unido, a Alemanha e a UE.
Meloni no topo
"Entre as grandes nações europeias, o Governo italiano é, de longe, o mais forte", disse Giorgia Meloni, confiante, antes de viajar de Roma para a Apúlia. De facto, o Presidente francês, o chanceler alemão e o primeiro-ministro britânico estão atualmente numa posição difícil em casa.
Em Paris, Emmanuel Macron convocou novas eleições para 30 de junho e existe a ameaça de uma viragem à direita. Em Berlim, Olaf Scholz sofreu uma pesada derrota nas eleições europeias para a sua coligação, constituída por SPD, Verdes e Liberais. A coligação está a braços com uma enorme disputa sobre o próximo orçamento federal. Em Londres, o conservador Rishi Sunak terá muito provavelmente de ceder o seu lugar aos trabalhistas após as eleições de 4 de julho.
Apenas Giorgia Meloni pode afirmar que ganhou confortavelmente as eleições com a sua coligação de extrema-direita. Agora, quer ter uma palavra a dizer na UE e se destacar no G7. A sua relação com o Presidente dos EUA, Joe Biden, que também está a participar na campanha eleitoral norte-americana, é muito boa. Ambos estão amplamente de acordo sobre as questões transatlânticas e sobre o apoio à Ucrânia na sua defesa contra a Rússia.
Armas e dinheiro para a Ucrânia
A guerra na Ucrânia está no topo da agenda dos sete Estados que fornecem o principal apoio financeiro e ajuda em armamento a Kiev. O Presidente ucraniano vai participar no encontro em Apúlia. Precisa de mais armas de longo alcance, munições e mais capacidades de defesa aérea. O chanceler alemão Olaf Scholz já se comprometeu a apoiar a aquisição de mais capacidades de defesa aérea dos Estados do G7 e de outros países.
Até agora, alguns países europeus que possuem o sistema de defesa antimíssil Patriot, por exemplo, têm-se mostrado relutantes em fornecer as unidades à Ucrânia.
Os países do G7 não estão unidos no que diz respeito ao envio de soldados ocidentais para a Ucrânia. Enquanto a França e o Reino Unido estão abertos ao envio de formadores, a Alemanha, os EUA e a Itália opõem-se veementemente a esta medida.
Olaf Scholz quer obter compromissos concretos para a reconstrução da Ucrânia após a guerra. Os sete países da cimeira e a UE querem concordar em disponibilizar mais 50 mil milhões de dólares americanos para a Ucrânia. O dinheiro deverá ser obtido sob a forma de um empréstimo conjunto, que será depois pago lentamente com as receitas provenientes dos ativos estatais russos congelados.
Está também a ser discutida uma forma de pôr fim à guerra. Alguns dos chefes de Estado e de Governo do G7 deslocar-se-ão no sábado (15.06) à Suíça para uma conferência internacional de paz organizada pela Ucrânia. No entanto, a Rússia, o país agressor, não estará presente.
Novos planos com África
Giorgia Meloni, a presidente italiana da cimeira do G7, quer concentrar-se numa melhor cooperação com África no fornecimento de matérias-primas e energia, nas cadeias de abastecimento e na gestão das migrações. Doze representantes de países africanos e do Indo-Pacífico foram convidados para debater mais investimentos e a produção conjunta de energia limpa em África para a Europa.
Já se realizaram muitas iniciativas deste tipo em África no âmbito do G7. O que falta são compromissos financeiros concretos e uma cooperação em pé de igualdade, criticou a organização não governamental Oxfam antes da reunião.
Os Estados do G7 poderiam combater eficazmente a fome em África com apenas três por cento das suas despesas anuais com a defesa. "Os Governos do G7 conseguem investir maciçamente em armamento, mas quando se trata de acabar com a fome, ficam subitamente falidos”, afirmou Tobias Hauschild, da Oxfam Alemanha, antes da reunião em Itália.
A organização de ajuda ao desenvolvimento ONE critica o facto de o compromisso financeiro do Ocidente para com África ter diminuído nos últimos anos. A dívida, por outro lado, está a aumentar rapidamente. O serviço da dívida, cada vez mais também para empréstimos da China, já está a sufocar alguns países africanos, de acordo com uma declaração da ONE sobre a cimeira do G7.
Restringir ainda mais a migração
Os Estados da UE estão a associar cada vez mais a sua ajuda aos países africanos a contrapartidas em termos de gestão da migração. A UE está a tentar concluir acordos de migração com a Líbia, a Tunísia, a Jordânia e o Egito, a fim de deter, sempre que possível, os refugiados e os migrantes nestes países de trânsito. As organizações de ajuda criticam esta abordagem porque a Europa está a tentar fugir às suas responsabilidades.
Meloni, por outro lado, promete em Itália fechar mais ou menos as fronteiras aos migrantes e externalizar os procedimentos de asilo sempre que possível. A primeira-ministra italiana inspira-se em Joe Biden. O Presidente dos EUA emitiu recentemente um decreto que restringe severamente a possibilidade de os migrantes pedirem asilo na fronteira sul dos EUA. Os migrantes podem agora ser deportados de volta para o México sem qualquer procedimento. Há também apelos em alguns países da UE para tornar possível a deportação direta, a fim de proteger as fronteiras externas.
G7 apela ao cessar-fogo em Gaza
O G7 vai apoiar a resolução do Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo na guerra entre a organização terrorista islâmica Hamas e Israel, que foi apresentada pelos EUA.
Os sete Estados e a UE esperam que o Hamas aceite imediatamente as condições para um cessar-fogo, afirmou um diplomata de alto nível da UE em Borgio Egnazia, antes da reunião. Os reféns israelitas têm de ser libertados e o sofrimento humanitário dos palestinianos na Faixa de Gaza tem de acabar. No entanto, não é claro para os diplomatas se Israel está a apoiar totalmente a resolução.