UE-UA: Africanos pedem aos europeus que passem aos atos
18 de fevereiro de 2022No final de uma cimeira de dois dias em Bruxelas, destinada a promover uma nova ligação entre os países situados a norte e a sul do Mediterrâneo, o Presidente do Senegal e da União Africana (UA), Macky Sall, afirmou: "Temos uma oportunidade histórica de ouro para mostrar através de nossas ações que renovamos essa parceria".
Na cimeira UE-UA, em que participaram cerca de 70 líderes europeus e africanos, foi aprovada uma declaração conjunta que, entre outros pontos, sublinha que o desafio mais imediato é "garantir o acesso justo e equitativo às vacinas" contra a Covid-19.
Nesse sentido, a UE comprometeu-se a doar pelo menos 450 milhões de doses até meados de 2022, para além de ajudar o continente a desenvolver capacidades para produzir as suas próprias vacinas, com o objetivo de que até 2040 África fabrique 60% dos medicamentos que consome.
A estratégia da Europa é promover este e outros objetivos, como o desenvolvimento do "hidrogénio verde, redes de transporte, conexões digitais, satélites, agricultura sustentável, agricultura e educação", como resumiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para o que a UE já anunciou que vai mobilizar, em sete anos, 150.000 milhões de euros de investimento público e privado, para contrariar a "Rota da Seda" chinesa.
De onde virá o dinheiro?
No entanto, as instituições da UE não conseguiram determinar de onde virá o dinheiro, que alguns cálculos jornalísticos colocam em cerca de 6.000 milhões de euros por ano em fundos públicos.
"Vamos trabalhar para ser transparentes, também perante vós", disse o Presidente de França, Emmanuel Macron, ao ser questionado na sala de imprensa sobre a ambiguidade da promessa de financiamento por meio da qual a UE espera tornar-se "o parceiro de referência" para o investimento em África em termos de infraestruturas".
A declaração inclui, no entanto, outros aspetos mais específicos desta nova relação que pretendem relançar dois blocos com uma delicada história colonial, como é o caso da "restituição" do património cultural e artístico africano em mãos europeias.
Nas mesas temáticas em que se estruturaram os debates da cimeira - em que não coincidiram os países de herança colonial direta, como a Bélgica e a República Democrática do Congo ou os Países Baixos e a África do Sul - foi dada especial importância à paz e à segurança, copresidida por Espanha, Mauritânia e Gana.
"Temos que proceder de outra forma (...). Não é uma questão de que soldados franceses, alemães ou dinamarqueses vão morrer em África. Precisamos de tecnologia, experiência e meios de financiamento e equipamentos para enfrentar esta terrível ameaça à paz e estabilidade", disse o presidente da comissão da União Africana, Moussa Faki.
"Uma visão de associação e não apenas uma relação de ajuda"
Falou-se também da imigração ilegal, para abordar a questão pelos "dois lados", disse Macron, cujo país detém neste semestre a presidência rotativa do Conselho da UE, tanto no combate ao tráfico de seres humanos como no "regresso dos que chegaram ilegalmente ao território europeu".
Em suma, a cimeira procurou cimentar a relação entre a Europa e África no século XXI, que "têm recursos essenciais um para o outro", disse Macky Sall, que sublinhou que é necessário construir "uma visão de associação e não apenas uma relação de ajuda".
"A inteligência coletiva europeia e africana, em conjunto, pode alcançar muitas conquistas", resumiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa cimeira em que os líderes europeus estiveram muito atentos aos últimos desenvolvimentos relativos à tensão entre a Rússia e a Ucrânia.