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Cinema angolano mostra-se em Lisboa

João Carlos (Lisboa)3 de julho de 2014

Evento integralmente dedicado ao cinema angolano exibe trabalhos praticamente desconhecidos de autores de ou sobre um país em efervescência cultural. Um dos destaques é o documentário "Angola, Ano Zero".

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Foto: Ever Miranda

Lisboa acolheu durante dois dias a 3ª edição da Mostra de Cinema “Olhares sobre Angola”. O certame encerra esta quinta-feira (3.07) na Cinemateca Portuguesa com “Death Metal Angola”, de Jeremy Xido, um filme que representa o sonho de dois jovens de organizar o primeiro concerto de rock no cenário bombardeado e minado da província do Huambo.

A edição de 2014, acolhida pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, insiste no projeto inicial que visa trazer ao palco lisboeta obras ou produções de realizadores angolanos e sobre Angola ainda desconhecidos. Os promotores do evento fazem este ano uma retrospectiva em homenagem a Mariano Bartolomeu, um dos pioneiros do cinema angolano, que começou a trabalhar na sétima arte aos 15 anos.

“Temos a possibilidade de mostrar um conjunto de obras de um período dos anos 70 aos anos 90 que são algumas obras que foram depositadas no Arquivo Fílmico da Cinemateca Portuguesa, explica Maria do Sameiro André, da organização, afirmando que a Cinemateca “achou oportuno mostrar estas obras, embora não tenham sofrido qualquer tipo de restauro”.

O evento inclui uma compilação de obras que nos transportam para o passado, como aquela que mostra a verdadeira origem da Rebita ou da dança kizomba. “Kizomba, Velha Guarda”, de acordo com Maria do Sameiro André, “é uma oportunidade de se conhecer um outro lado da kizomba”. “Hoje em dia pensa-se que a kizomba apareceu nos últimos anos e a kizomba é uma dança que já existe há alguns anos”, explica a organizadora, destacando ainda o filme “Eu sou, Eu era, Eu quero ser pioneiro político”, de 1977, de Henrique Alves, “que fala da sua vida, dos seus sonhos e das suas aspirações”.

Angola Film Regisseur Angola Ano Zero
Ever Miranda Palacio, realizador do filme "Angola, Ano Zero"Foto: Ever Miranda

Novas realidades angolanas

A organização escolheu para a sessão de abertura, na noite desta quarta-feira (2.07), o documentário “Hereros Angola”, de Sérgio Guerra. O filme recupera a tradição de um grupo étnico das terras do sudoeste angolano. Horas antes, o documentário “Angola, Ano Zero”, de 2013, realizado pelo cubano Ever Miranda Palacio, era também bastante aplaudido pelo público. O filme apresenta a nova realidade angolana, através de um diálogo entre jovens emigrantes que regressam à terra natal com experiências inovadoras, após os 30 anos de guerra civil. Depois de quatro anos em Angola, onde continua a viver, o realizador veste a pele de imigrante para narrar a determinação dos jovens angolanos “retornados” em contribuir para a redefinição de um novo projeto social, cultural e económico para o país.

“Para mim era muito estranho, um fenômeno único, o processo de identidade que estava e ainda está a acontecer em Angola, com a presença destes jovens que voltam ao país, depois de terem passado uma temporada fora, e como eles influenciam a modernidade do país”, explica Ever Miranda Palacio. O realizador sublinha que esta é uma realidade diferente da do seu país, Cuba, justificando assim a presença da sua própria história no documentário. “Os jovens cubanos não encontram um espaço no país, saem e não conseguem voltar”, diz Palacio.

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São jovens que transportam consigo experiências, hábitos e costumes diferentes que se cruzam com a cultura angolana. “É um exemplo da globalização”, acrescenta o realizador. Também abordado pela DW, Mariano Bartolomeu considera que o cinema angolano, como em qualquer parte do mundo, vive momentos altos e baixos. Para este pioneiro do cinema angolano, esta mostra em Lisboa é um espaço importante para dar a conhecer as produções angolanas. “Sempre me pareceu um pouco estranho que os meus filmes não fossem conhecidos em Portugal e conhecidos em França, Estados Unidos e Itália”, revela o realizador.

O realizador fechou um ciclo da sua carreira e embarca agora em dois novos projetos, um dos quais será a sua primeira longa-metragem, que conta já com apoio internacional.