Clima de receio no arranque da campanha eleitoral em Moçambique
29 de agosto de 2014A gestão dos confrontos galvanizou a imagem das partes beligerantes, principalmente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, consideram analistas nacionais. Das 30 formações inscritas, as mais visíveis são apenas três.
Para o analista político Silvério Ronguane, o momento que se avizinha poderá não ser de habitual festa, como era de se desejar. “Por um lado, esta devia ser a campanha mais animada de todas porque estamos reconciliados e ultrapassamos a guerra. Mas também tenho medo que a campanha eleitoral possa abrir feridas que ainda não estão bem cicatrizadas, que possa ter um tom de conflitualidade”, explica.
Face aos receios de conflitos, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) garantiu à DW África que está tudo a postos para que a campanha eleitoral corra da melhor maneira possível. Segundo Paulo Cuinica, porta-voz do órgão eleitoral, “este momento tem vindo a ser preparado com todos os atores”, isto é, com os próprios partidos políticos e com a imprensa.
“Temos estado a divulgar mensagens positivas no sentido de as pessoas não enveredarem pela violência. E temos estado a trabalhar com a Polícia da República de Moçambique (PRM), com quem temos formações conjuntas” a nível distrital, adiantou. De acordo com o porta-voz da CNE, há um conjunto de atividades já em andamento e também foi acordado um código de conduta política com os partidos e com a PRM.
Três favoritos na corrida
Silvério Ronguane considera difícil antever já um potencial vencedor, mas está certo de que a corrida eleitoral será muito bem disputada. Ao todo são 30 as formações políticas inscritas com vista às eleições legislativas, sete para as assembleias provinciais e três candidatos às presidenciais.
Porém, sublinha, as formações políticas não entram em igualdade de circunstâncias para a caça ao voto, facto que claramente destaca os três favoritos: a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), a RENAMO, o maior partido da oposição e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição.
“A FRELIMO tem a sua história, mas sobretudo tem meios. É um partido que tem fortes probabilidades de marcar positivamente estas eleições”, explica o analista político.
Por outro lado, observa, também é preciso ter em conta que o recente desfecho político é favorável à própria RENAMO. O líder da RENAMO, “Afonso Dhlakama, sai como grande vencedor desta tensão política porque atingiu todos os seus objetivos e é de esperar que a hostes renamistas estejam neste momento muito mais galvanizadas e prontas para vencer estas eleições”, afirma Silvério Ronguane.
MDM e FRELIMO arrancam em Nampula
E como se posiciona o MDM entre os dois principais partidos agora revigorados em termos de imagem, depois da gestão da crise político-militar? “Não podemos deixar de lado o MDM, que é o partido emergente, o partido da juventude, que nãos e revês nesta história belicista nem na forma de governar dos mais velhos”, lembra o analista moçambicano.
“É a juventude que se levanta e quer iniciar uma nova fase, um novo regime político”, acrescenta.
O MDM já anunciou que vai lançar a sua campanha para as eleições gerais em Nampula, no domingo. A FRELIMO também escolheu esta província nortenha - o maior círculo eleitoral do país - para o início da sua campanha.
Se por um lado a grande maioria das formações políticas está pronta para ir ao terreno lutar pelo voto, a RENAMO, por outro lado, não sabe em que momento e onde dará o pontapé de saída.
“Terei que escolher uma das províncias, no centro, no sul ou no norte, mas neste momento não posso precisar o distrito, a cidade ou até mesmo o posto administrativo”, disse à DW África o líder da RENAMO.
A legalização do acordo do fim das hostilidades entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO, através da ratificação pelo Parlamento e posterior promulgação pelo Presidente do país, Armando Guebuza, é o que falta para que o maior partido da oposição possa ir à conquista do eleitorado.
Partidos com pouca expressão
Os restantes 27 partidos não têm muita expressão política. Fora as épocas eleitorais raramente se pronunciam sobre a vida política, económica e social do país. Também quase não promovem atividades de interesse nacional.
Nesta campanha que se avizinha, Silvério Ronguane acredita que estes venham a ter pouca visibilidade, tal como em épocas normais.
“Os outros partidos sempre participaram nestas eleições. Não é a primeira vez. E têm tido 1% ou 0,5% dos votos. Portanto, vão contribuir para a festa, mas não se conhecem as suas ideias”, observa.
Nenhum destes partidos tem um candidato às eleições presidenciais nem listas para as eleições provinciais, salienta ainda o analista. “Estamos a falar de forças residuais que têm, sobretudo, um caráter muito local, regional e não podem ser vistos num contexto global”, conclui.
A campanha eleitoral para as quintas eleições gerais moçambicanas decorre durante 45 dias e termina a 13 de outubro, dois dias antes da votação.