"Coligação Jamaica": desafio para formar novo Governo alemão
25 de setembro de 2017Um dia após as eleições federais da Alemanha, os partidos realizaram reuniões internas para avaliar os resultados alcançados e preparar o início das negociações sobre a formação de um novo Governo na Alemanha.
O cenário mais provável é a formação da chamada "Coligação Jamaica", em que a União (CDU/CSU) se aliaria aos Liberais do FDP e ao partido Os Verdes. O nome da coligação é uma alusão à semelhança entre as cores dos partidos (preto: CDU, amarelo: FDP e verde: Os Verdes) e a bandeira da Jamaica.
No entanto, mesmo antes do início dos debates entre os partidos, as divergências já começam a despontar. A preocupação dos partidos menores da possível coligação é de que tenham de abrir mão dos seus principais temas de campanha para fazer parte do novo Governo.
Os Verdes querem manter autoconfiança
No dia seguinte à eleição do Bundestag, Os Verdes sublinharam a sua prontidão para conversações sérias com a União e o FDP sobre a formação da chamada "Coligação Jamaica".
Seria claro que todos teriam de assumir compromissos, disse o líder do partido, Cem Özdemir, esta segunda-feira, perante a sede do partido em Berlim, onde o comité executivo federal do partido esteve reunido.
"Eu sei que não somos a fração mais forte [da coligação] em tais conversas", declarou, enfatizando que não irá abrir mão dos temas principais do seu partido - como proteção do clima, igualdade social e uma Europa solidária.
"É preciso conduzir as conversações com seriedade. Temos esta tarefa clara. Mas permanecemos com o que dissemos antes das eleições: trata-se de conteúdo", defendeu.
O vice-presidente do partido, Robert Habeck, pediu confiança aos membros da sua formação nas discussões com a União e o Partido Democrático Liberal (FDP).
"Pode-se naturalmente negociar com confiança e força, mesmo estando-se contra a parede", disse ele, referindo-se à pressão para formar uma coligação governamental.
A co-candidata de topo do partido, Katrin Göring-Eckardt, declarou que as conversações deveriam acontecer "com toda a calma", mas também "com toda a autoconfiança" - uma vez que Os Verdes ganharam 400 mil eleitores nessas federais. "Toda a coligação depende de compromissos. E isso não será fácil nessas circunstâncias", disse.
Liberais pretendem manter agenda
Os principais políticos do FDP fortaleceram a posição do partido de que a formação de uma coligação governamental não será feita a qualquer preço.
Alexander Graf Lambsdorff, vice-presidente do Parlamento Europeu, disse que o seu partido irá aguardar pela iniciativa da União para iniciar as negociações.
"Vamos conversar com os outros partidos sobre o nosso conteúdo - educação, digitalização, política para os refugiados, imposto, entre outros – e então decidir se é ou não é possível", avaliou.
O FDP estaria disposto a assumir responsabilidades no novo Governo, se fossem reconhecidos avanços liberais.
Entretanto, o vice-presidente do partido, Wolfgang Kubicki, deixou claro que "o resultado das conversas pode ser não participar [no novo Governo]".
União fala em concessões de todos os lados
A chanceler alemã, Angela Merkel, garantiu esta segunda-feira, em Berlim, que irá incluir o SPD no diálogo que pretende abrir com os partidos políticos.
"Vamos naturalmente buscar o diálogo com o FDP, bem como com Os Verdes, mas vou adicionar o SPD. Pode-se partir do princípio de que questões como políticas financeiras sólidas e segurança interna são sempre de particular importância para a União", declarou Merkel, em conferência de imprensa, na central da União Democrata Cristã (CDU).
Já o secretário-geral da CDU, Peter Tauber, convocou os parceiros potenciais da "Coligação Jamaica" à disposição para o compromisso.
"Uma coligação só funciona quando todos os lados fazem concessões, " disse Tauber na segunda-feira à estação de televisão "Phoenix".
Do ponto de vista da CSU, parceira da CDU, a União deve primeiro criar uma linha própria para as negociações de coligação. "Precisamos, primeiro, de uma clara orientação de curso", afirmou Andreas Scheuer, secretário-geral da CSU, ao canal de TV.
SPD na oposição
Após o SPD ter descartado a possibilidade de uma nova edição da grande coligação governamental, uma aliança da União com FDP e Verdes é a única opção de coligação para a formação de um novo Governo.
Também esta segunda-feira, o líder do partido no Parlamento, Thomas Oppermann, defendeu a decisão do seu partido de se mover para a oposição.
"O SPD deve voltar a tornar-se o maior partido de centro-esquerda, a alternativa à CDU. E devemos dar aos eleitores uma oportunidade clara de decidir entre a CDU e o SPD. A situação atual - de todos a circular em torno de Angela Merkel como satélites - deve ser encerrada na Alemanha", considerou.
O vice-presidente do SPD, Thorsten Schäfer-Gümbel, disse à rádio alemã "Deutschlandfunk" que, após este resultado eleitoral, não se poderia fingir que nada aconteceu. Agora seria preciso uma renovação organizacional e de conteúdo do SPD.
Eleitores de Angola e Moçambique céticos
A DW áfrica também ouviu a opinião de eleitores de origem africana em Berlim, que se mostraram céticos diante do novo cenário político alemão. O jornalista e rapper angolano Diamantino Feijó, que tem a nacionalidade alemã e votou no SPD, não espera uma grande mudança.
"Desse novo Governo, eu não espero muita coisa. Acho que é a continuação daquilo a que a CDU já nos habituou", disse o angolano.
"Acho que não vai ter uma mudança no campo social. Pode ser que, com o partido Os Verdes, no meio ambiente alguma coisa mude. Mas, no campo social - mais direitos para as pessoas, desemprego, aposentadoria - eu não acredito que nessa área mude alguma coisa", lamentou Diamantino Feijó.
Já o eletricista moçambicano José António Mafueca, também um eleitor na Alemanha, diz que ainda espera uma reviravolta política.
"Nós sabemos que o Martin Schulz é o presidente do SPD. Mas poderá haver uma discussão agora adiante e acontecer que ele saia do partido. Assim, o SPD vai ter que se formar de outra maneira e pode vir a acontecer uma nova coligação [governamental] para enfrentar a dificuldade que se encontrará com os três partidos [União, FDP e Os Verdes]. Isso [a 'Coligação Jamaica'] pode vir a não ser. Vamos ver muita coisa até dezembro", considerou.