João Lourenço dá início à pré-campanha do MPLA
18 de fevereiro de 2017O primeiro ato oficial da pré-campanha às eleições gerais de agosto em Angola - às quais já não concorre José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979 - teve lugar na praça Dr. António Agostinho Neto. Segundo dados do partido, a apresentação oficial de João Lourenço como candidato a Presidente da República nas eleições gerais de 2017 contou com a presença de mais de 50 mil pessoas provenientes dos 14 municípios que constituem a província da Huíla, bem como de uma delegação proveniente da província do Cunene, para além de membros do bureau politico do partido.
Sob o lema "MPLA com o povo rumo à vitória”, o general João Lourenço sublinhou no seu discurso que a formação de quadros continuará a fazer parte das prioridades do seu partido, com a força do passado do primeiro presidente do MPLA, António Agostinho Neto, e no presente, com José Eduardo dos Santos, para o desenvolvimento do país.
Para isso, João Lourenço diz contar com a população angolana: "A base do desenvolvimento de qualquer sociedade não é o petróleo, não são os diamantes, não é nenhuma riqueza material. São os 25 milhões de cidadãos angolanos que temos hoje”. Segundo o cabeça-de-lista do MPLA, é necessário investir nos angolanos, "na sua preparação, na sua educação, na sua formação”. "Com este cidadão preparado, educado e formado”, acrescenta, os governantes poderão "colocar as inúmeras riquezas do país, ao serviço da Nação.”
João Lourenço que frisou que o MPLA fez muito por Angola para corrigir o que esteve mal e reconheceu que o país precisa de infraestruturas e de cuidar da qualidade dos quadros que têm sido formados. Para o cabeça-de-lista do MPLA, "nem sempre a qualidade é a que o mercado de trabalho precisa”.
"Cerco apertado” à corrupção
A corrupção que assola o país também está nas prioridades do MPLA, de acordo com o cabeça-de-lista. Perante os apoiantes no Lubango, João Lourenço prometeu um "cerco apertado" ao fenómeno, que está a "corroer a sociedade".
Recordando que a corrupção é um fenómeno que afeta todos os países, João Lourenço advertiu que o problema é a "forma" como Angola encara o problema: "Não podemos é aceitar a impunidade".
"Se conseguirmos combater a corrupção, até os corruptos vão ganhar com isso", ironizou João Lourenço, apelando a que seja o MPLA "e não a oposição, a tomar a dianteira no combate a este mal".
Apoiar os empresários
Falando a partir de um palco com duas fotografias de grande dimensão de José Eduardo dos Santos - chefe de Estado e presidente do MPLA - e do cabeça-de-lista do partido, João Lourenço destacou também a importância da estabilidade da economia. "Só tendo uma economia equilibrada podemos garantir a oferta de muitos mais empregos aos nossos cidadãos e, sobretudo, à nossa juventude”.
Ao mesmo tempo, João Lourenço prometeu apoio aos empresários que trabalham de forma honesta. Recordou que os empresários têm "apenas três obrigações fundamentais", nomeadamente licenciar a empresa, pagar "atempadamente" os salários e os impostos ao Estado. "De resto, deixem-nos trabalhar.
Não ponham mais dificuldades", sublinhou, referindo-se aos problemas que os empresários enfrentam para investir em Angola devido, disse, ao conhecido pagamento de "gasosas" para ultrapassar as "pedras no caminho".
O político frisou ainda no seu discurso a importância das parcerias público-privadas com várias instituições religiosas, sobretudo nos sectores da educação e saúde. Em termos de investimento, e num momento em que Angola enfrenta ainda uma crise económica e financeira devido à quebra nas receitas do petróleo, o candidato voltou a falar no envolvimento dos privados na reconstrução nacional.
Críticas da oposição
João Lourenço está desde sexta-feira (17.02) no Lubango e o Governo angolano colocou as Forças Armadas Angolanas (FAA) e a Polícia Nacional de prevenção para garantir a segurança do evento. Uma medida que levanta críticas entre os partidos da oposição com assento parlamentar, como a UNITA e a CASA-CE.
O secretário da UNITA na Huíla, Alcibiades Kopumi, considera que esta "é uma grande violação à Constituição”, uma vez que a polícia e o exército "são elementos do Estado”. O dirigente da UNITA denuncia ainda o transporte de cidadãos - militantes do MPLA de vários municípios da Huíla - "em camiões, sem condições nenhumas de segurança, como de fossem mercadoria”, para assistir ao arranque da pré-campanha do MPLA. "Isto não é boa coisa, pois estamos a sair de situações tristes em que as pessoas morreram ao serem transportadas assim”, sublinha. Já Alfredo Panzo, secretário para a informação da CASA-CE, considera que "o MPLA perdeu o norte, pois as FAA e a polícia deviam ser apartidárias”.
As próximas eleições gerais em Angola ficam desde já marcadas por uma transição no poder, tendo em conta a não recandidatura de José Eduardo dos Santos, que não integra qualquer lista do MPLA, embora mantendo-se como presidente do partido.
Na Huíla, João Lourenço reuniu com autoridades tradicionais e religiosas e inaugurou um hospital na localidade do Toco. "Precisamos de ganhar as eleições. Temos a vitória nas nossas mãos, não a deixemos fugir", apelou João Lourenço.