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Combate à Covid-19 na África do Sul: Sucesso ou má gestão?

Adrian Kriesch (Cidade do Cabo) | ac
23 de abril de 2020

A África do Sul está a ser bastante resoluta na sua resposta ao novo coronavírus e, por isso, até recebeu alguns elogios. Mas o perigo de uma catástrofe sanitária ainda não está completamente dissipado.

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Coronavirus Südafrika Township Khayelitsha bei Kapstadt Ausgangssperre
Foto: AFP/R. Bosch

O recolher obrigatório da África do Sul foi imposto a 26 de março e está entre os mais rigorosos do mundo. Os observadores dizem que as medidas já deram frutos, pois o aumento de novas infecções caiu – em duas semanas - de uma média de 110 para cerca de 70 casos por dia. No entanto, devido ao período de incubação, esse sucesso não pode ser atribuído apenas às medidas governamentais, afirma Salim Abdool Karim, conselheiro do governo sul-africano.

Na terceira semana depois da imposição das medidas governamentais, o número de novas infeções voltou a aumentar. Em 20 de abril, a Universidade John Hopkins registou 3.158 casos confirmados na África do Sul. Mas há quem duvide desses dados. Não está claro se, na realidade, mais pessoas estão infetadas ou se o aumento pode ser explicado pela expansão dos testes de coronavírus.

Elogios não fundamentados?

O Presidente Cyril Ramaphosa recebeu muitos elogios, a nível internacional, por sua ação rápida e decidida. Além do recolher obrigatório, anunciou que aumentaria rapidamente as capacidades de teste e investiria pesadamente no sistema de saúde. Praticamente todos os partidos da oposição aprovaram o procedimento.

Coronavirus Südafrika Township Khayelitsha bei Kapstadt Ausgangssperre
Township Khayelitsca, perto da Cidade do Cabo: Funcionária dos serviços de saúde explica medidas contra a pandemiaFoto: Reuters/M. Hutchings

Mas os anúncios nem sempre refletem a realidade: até à data, apenas uma pequena parte dos 15.000 testes, que o Governo planeava efetuar por dia, foram realizados. Até agora, apenas algumas das 60 estações de teste móveis, anunciadas pelo Governo estão em uso. Também há falta de material de proteção, como máscaras e luvas. O mercado mundial está quase vazio e devido às rígidas regras auto-impostas durante o estado de emergência, quase nenhuma encomenda entra no país.

Boa estratégia, fraca implementação

Trata-se de dificuldades normais em tempos de crise, dizem alguns. Outros veem um problema fundamental: na África do Sul fazem-se bons planos, é certo, só que depois faltam as instituições competentes para implementar essas mesmas estratégias. Enquanto o Presidente e o ministro da Saúde explicam calmamente as medidas aos cidadãos, outros ministros apostam na repressão. 

É o caso do ministro da Polícia, Bheki Cele, que em conferências de imprensa não esconde o seu desagrado perante as perguntas dos jornalistas, que querem saber porque foi proibida a venda de álcool e cigarros, assim como foi proibido passear o cão de estimação. O ministro chegou mesmo a incentivar as forças policiais a, “caso necessário, empurrar as pessoas de volta para as suas casas".

Isso pode tornar-se um grande problema em zonas mais pobres, onde as medidas impostas pelo Governo são mal aceites e onde a polícia é encarada com mais desconfiança. Nas redes sociais circulam muitos vídeos com cenas de violência policial na imposição do recolher obrigatório. Pelo menos três pessoas terão perdido a vida na sequência de confontos com a polícia desde que as medidas governamentais foram impostas.

Südafrika Coronavirus Handschuhausgabe
África do Sul: trabalhadora dos serviços de saúde distribui luvasFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Hadebe

A lei de confinamento é também é criticada por muitos cidadãos que a consideram desnecessária e responsável pelo desastre económico que afeta sobretudo os mais pobres. "Onde está o Governo que impos essas malditas leis?”, exclama uma mulher furiosa no parque de Hanover, na Cidade do Cabo. Como ela, muitos aqui têm medo do vírus, mas também da fome. Algumas ruas nos municípios mais pobres continuam cheias de pessoas, que continuam a fazer os seus negócios de rua, para garantir diariamente o sustento das famílias. "Acho que as pessoas só levam o coronavírus a sério quando alguém da família é afetado", diz um jovem em Gugulethu.

Setor de saúde em colapso?

Para impedir a disseminação do vírus nos municípios, 10.000 trabalhadores da saúde em todo o país, foram destacados para entrar diretamente em contacto com os cidadãos, informando as pessoas sobre os sintomas da Covid-19. O objetivo é também obter uma visão geral sobre se há fontes de surtos possivelmente desconhecidas anteriormente.

Entretanto, os hospitais continuam a preparar-se para tempos mais difíceis, montando tendas para o tratamento de pacientes, caso haja sobrelotações nos hospitais propriamente ditos. É uma corrida contra o tempo. O setor da saúde na África do Sul está cronicamente subfinanciado há anos: no último ano ,a verba do orçamento destinada ao Ministério da Saúde foi reduzida em quatro mil milhões de rands, o que equivale a cerca de 200 milhões de euros.

Flexibilização das medidas contra o coronavírus?

"No momento, acredito que o confinamento obrigatório é o caminho certo. Temos de nos preparar para uma nova normalidade", afirma Alan Winde, primeiro-ministro da Província do Cabo Ocidental, em entrevista ao correspondente da DW Adrian Kriesch. "Mas temos de desenvolver boas ideias sobre como podemos iniciar novamente as atividades económicas, mantendo ao mesmo tempo o risco no mínimo". 

O seu partido, a Aliança Democrática, já está a exigir a primeira flexibilização e um levantamento cuidadoso do estado de emergência no país. Dependendo do desenvolvimento do número de casos, as lojas de negócios individuais devem poder abrir gradualmente. O Presidente Ramaphosa, até à data, anunciou apenas uma vaga flexibilização das medidas contra o coronavírus.

Südafrika Johannesburg | Ausgangssperre wegen Coronavirus
Combate ao coronavírus: patrulha da polícia em Joanesburgo, África do SulFoto: Getty Images/AFP/M. Spatari