Como os Gupta ‘capturaram’ a África do Sul
10 de novembro de 2016O relatório de 355 páginas da autoria da ex-protetora pública Thuli Madonsela, não vai ao ponto de imputar crimes ao Presidente. Mas apela para uma investigação judicial das alegações, de que membros da poderosa e rica família Gupta influenciaram decisões governamentais, incluindo a nomeação de ministros.
Madonsela também exige a investigação de uma série de contratos comerciais entre empresas paraestatais e companhias dos Gupta. Os empresários Ajay, Atul e Rajesh Gupta, nascidos na Índia, rejeitam todas as acusações de tráfico de influências.
A família mantém laços estreitos com o Presidente Zuma. Três filhos do Presidente trabalharam para empresas associadas aos Gupta. Eis as principais conclusões do relatório:
1º As acusações levantadas pelo vice-ministro das Finanças, Mcebisi Jonas
O vice ministro das Finanças, Mcebisi Jonas alega que um dos irmãos Gupta lhe propôs o posto de ministro das Finanças. Quando Jonas rejeitou a oferta, foram-lhe oferecidos como aliciante o equivalente a quatro milhões de euros. Ajay Gupta terá dito a Jones que a família lucrou seis mil milhões de rands graças a negócios com o Estado, e tencionava aumentar soma para oito mil milhões.
2º Falta de investigação de outras alegações
A ex-deputada do partido governamental ANC, Vytjie Mentor, afirma que numa visita à residência dos Gupta em 2010 lhe foi oferecido o posto de Ministra das Empresas Públicas, na presença do Presidente Zuma. Foi-lhe pedido que em contrapartida impedisse as linhas aéreas sul-africanas South African Airways (SAS) de fazerem a carreira da Índia. A família Gupta tem ligações com a companhia aérea indiana, Jet Airways. O relatório aponta que não há indícios de que as alegações tenham sido investigadas, o que pode ser uma violação da Constituição sul-africana e do código de conduta governamental.
3º Ligações suspeitas entre o ex-ministro Van Rooyen's e os Gupta
Registos de chamadas telefónicas provam que o ex-ministro das Finanças, David Van Rooyen, visitou a área de residência dos Gupta em Joanesburgo pelo menos sete vezes, incluindo na véspera da sua nomeação para o posto em dezembro de 2015. O relatório fala de uma revelação "preocupante”. Antes de assumir brevemente a pasta das Finanças, Van Royen era um deputado praticamente desconhecido. A sua nomeação surpreendeu o público e empresariado na África do Sul. Após apenas quatro dias no cargo, Van Royen foi substituído pelo atual ministro das Finanças, Pravin Gordhan.
4º Ligações suspeitas com o maior fornecedor de energia na África do Sul
O relatório alerta para ligações comerciais entre o fornecedor nacional de energia Eskom e a empresa Tegeta, controlada pelos Gupta. A estatal Eskom contratou a Tegeta para fornecer carvão a uma das suas estações de energia. "Após análise financeira minuciosa, torna-se aparente que o único objetivo da contratação da Tegeta para os fornecimentos à Arnot Power foi assegurar o financiamento da Tegeta,” conclui o relatório.
5º Interferência do Governo numa disputa comercial que envolveu os Gupta
Madonsela também investigou alegações de que o presidente Zuma e outros membros do Governo intervieram numa disputa que opunha empresas associadas aos Gupta e bancos locais. "Ao que parece, o Governo tomou uma decisão extraordinária e sem precedentes de intervir na disputa que envolveu uma companhia privada de que são co-proprietários amigos e o filho do Presidente”, escreve Madonsela.
6º Outras ligações entre departamentos governamentais, paraestatais e empresas controladas pelos Gupta
O relatório menciona outros acordos comerciais controversos entre a empresa estatal SAS e o jornal New Age propriedade dos Gupta. O New Age é conhecido por ser abertamente pró-governo. Segundo a imprensa, as SAS gastaram 9.4 milhões de rands para comprar seis milhões de exemplares do jornal. O relatório diz que o assunto deve ser averiguado na "próxima fase da investigação”.