Beira: Doadores prometem 1,2 mil milhões a Moçambique
1 de junho de 2019Moçambique angariou cerca de 1,2 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) dos 3,2 mil milhões apontados oficialmente como o valor necessário para o projeto de reconstrução dos pontos afetados pelos ciclones Idai e Kenneth, no centro e norte do país, respetivamente.
"Saudamos a pronta intervenção dos parceiros internacionais no apoio as vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, que, em curto espaço de tempo, fustigou sete províncias das regiões centro e norte do país", disse o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi.
O Presidente moçambicano falava durante o encerramento da Conferência Internacional de Doadores, evento de dois dias que decorreu na cidade da Beira, centro de Moçambique, e terminou este sábado (01.06).
De acordo com o chefe de Estado moçambicano, além da agricultura, o Governo vai dar prioridade aos setores da indústria e comércio para garantir que a economia das zonas afetadas volte a funcionar com celeridade.
Nyusi lamentou o facto de muitas infraestruturas públicas e privadas terem sido danificadas, com destaque para a área de transportes e comunicações, que teve 90% das infraestruturas destruídas. Na agricultura, acrescentou o chefe de Estado, perto de 800 mil hectares de culturas diversas foram destruídos, deixando milhares de famílias numa "situação preocupante".
"Os fundos necessários para reconstrução são maiores, mas um terço foi conseguido. Podemos dizer que estamos num bom passo", concluiu o Presidente moçambicano, que reiterou o agradecimento do povo moçambicano à comunidade internacional.
Gestão transparente
O Governo moçambicano assumiu, na sexta-feira (31.05), o compromisso de gestão transparente dos recursos que serão alocados à reconstrução das zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. "Queremos assegurar que o Governo tudo fará para garantir que os recursos a serem alocados para o programa de reconstrução sejam aplicados de forma transparente, única exclusivamente para este propósito", disse o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, na Beira.
Agostinho do Rosário adiantou que cabe ao gabinete de reconstrução, como instituição do Executivo, a responsabilidade de acompanhar os desembolsos, bem como a implementação dos projetos de reconstrução e fazer uma gestão consciente dos apoios.
"Encorajamos e apoiamos as iniciativas de alocação de novos recursos para a reconstrução pós-calamidades, contrariamente à opção de reorientar os financiamentos já existentes em programas em curso", afirmou o primeiro-ministro.
Plano de reconstrução
O plano de reconstrução, avaliado em 3,2 mil milhões de dólares (cerca de 2,87 mil milhões de euros), engloba um conjunto de cerca de 100 projetos socioeconómicos para os locais afetados. Após a conferência será elaborado um plano de reconstrução com prioridades em cada setor, o que "irá facilitar aos parceiros" a escolha do setor que "têm mais vocação para financiar".
O ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique em março, provocou 604 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, enquanto o ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou outras 250.000.
Sob o lema "Por uma reconstrução rápida, resiliente e abrangente", a Conferência de Doadores juntou perto de 700 pessoas, entre parceiros de desenvolvimento, fundações, instituições financeiras internacionais, agências da ONU, setor privado nacional e internacional durante dois dias.
O secretário-geral das Nações Unidas reiterou o seu apelo a uma "resposta generosa" da comunidade internacional para a reconstrução em Moçambique após a passagem dos ciclones Idai e Kenneth, que atingiram o centro e norte do país.
"Este é o momento para traduzir em gestos concretos a nossa solidariedade para com um país que sofreu uma das piores catástrofes ambientais jamais vividas em África [e que nos alerta, também, para a urgência do combate às alterações climáticas]", disse António Guterres, numa mensagem dirigida à conferência internacional de doadores na cidade da Beira.
Ações intensificadas
"As Nações Unidas e os seus parceiros humanitários mobilizaram-se, desde a primeira hora, apoiando, no terreno, os esforços do Governo; contribuindo para a coordenação do apoio internacional; distribuindo alimentos, água potável e medicamentos e disponibilizando abrigo aos desalojados", indicou António Guterres, adiantando que "o Fundo Central das Nações Unidas de Resposta a Emergências disponibilizou um total de 24 milhões de dólares (21,4 milhões de euros) para Moçambique" e que a ONU lançou um apelo humanitário de emergência de 282 milhões de dólares (cerca de 252 milhões de euros) para "reforçar a capacidade de resposta à tragédia", cujas contribuições estão ainda "muito aquém daquele valor".
O secretário-geral da ONU assegurou ainda que a organização "intensificará a sua ação destinada a fazer face aos efeitos, de curto e médio prazo, da catástrofe", acrescentando que "o apoio humanitário de emergência dará, progressivamente, lugar a um apoio à reconstrução e aos esforços do Governo de desenvolvimento do país". "A minha mensagem é clara: as Nações Unidas não se esquecerão de Moçambique", concluiu António Guterres.