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Conflito no Médio Oriente pode afetar Cabo Delgado?

13 de fevereiro de 2024

Não há consenso. Quem tende para essa teoria usa-a para justificar os focos de recrudescimento da insurgência no norte de Moçambique. Outros acreditam que se está a tentar atrasar a exploração de gás até às eleições.

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Foto de arquivo: Ataques de terroristas na província moçambicana de Cabo Delgado, novembro de 2020
Foto: Privat

A guerra que começou a 7 de outubro entre Israel e o grupo Hamas da Palestina, considerado terrorista pelo Ocidente, acarreta inúmeras consequências a nível global, e Moçambique parece não escapar a isso.

Nos últimos tempos, a província de Cabo Delgado, palco da insurgência há mais de seis anos, vive um recrudescimento da violência. O historiador José Milhazes relaciona o facto com a guerra no Médio Oriente.

"Eu acredito que existe uma relação no sentido em que o alargamento do conflito no Médio Oriente faz com que, noutras regiões onde já há grupos terroristas islâmicos, eles aumentem as suas operações", afirma Milhazes.

"Efeito dominó" só em Moçambique?

Quem também acredita num "efeito dominó" da guerra Israel-Hamas é a TotalEnergies, que explora gás natural no norte de Moçambique.

Questionado sobre os investimentos no país, na última semana, o presidente da petrolífera francesa, Patrick Pouyanné, disse que "a população civil já está de volta ao terreno, há normalidade, apesar de alguns incidentes relacionados com a situação em Gaza, que fez reativar algumas células em muitos países".

Porém, o especialista em assuntos de paz, conflito e segurança internacional Calton Cadeado desvaloriza essas posições.

Analista moçambicano Calton Cadeado
Calton Cadeado: "É uma teoria"Foto: Privat

"Pode ser, não podemos ignorar, é uma teoria", comenta Cadeado, e questiona: "Porque é que, no norte de África, onde também atua o Estado Islâmico, isso não está a acontecer? Será que agora o ponto mais vulnerável é Moçambique? O efeito dominó só se faz sentir em Moçambique?"

À espera das eleições gerais de outubro

Para Calton Cadeado, o pronunciamento do presidente da TotalEnergies não passa de uma "jogada" para justificar um atraso nas operações da petrolífera francesa em Cabo Delgado, quando as reais motivações são outras e prendem-se com a mudança da liderança do país.

"Na minha opinião, para a Total, o que mais lhes interessa é saber quem é o próximo candidato da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder] para as eleições e quem vai ser o próximo Presidente", diz.

Mapa de campos de gás na província de Cabo Delgado, em Moçambique

A petrolífera "elogia, mas também critica o Governo e colocam-se em posição de espera, porque eles querem ver os resultados eleitorais."

Um delfim de Filipe Nyusi na corrida presidencial poderia significar a manutenção dos acordos já estabelecidos. Contudo, o contrário já poderia favorecer a petrolífera francesa, segundo Cadeado.

O especialista suspeita que esse seja o desejo da TotalEnergies: "Sim, interessaria a eles ter um delfim do Presidente, mas também interessaria ter um pessoa nova."

"Não se sabe qual é o elemento de continuidade que já está acertado, mas [com alguém novo e] nesta situação de violência, têm uma cartada na manga, para poderem negociar com quem chega."

Colocar a exploração de gás em banho-maria é mais um revés para o Governo moçambicano que se mostra dependente do projeto de gás da Total para alavancar a economia. Mas até as eleições, o país estagna, principalmente no que se refere ao investimento estrangeiro.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África