Moçambicanos refugiam-se no Zimbabué devido a confrontos
29 de novembro de 2016Ainda não são conhecidos números oficiais, mas sabe-se que centenas de pessoas procuraram refúgio no Zimbabué, fugindo aos confrontos que assolam algumas províncias moçambicanas. Várias famílias que vivem em Chiurairwe, Nhabuto, Nhampassa, Chôa e Honde, nos distritos fronteiriços de Mossurize e Báruè, na província de Manica, partiram para o país vizinho.
Ao mesmo tempo, milhares de pessoas de outros postos e localidades abandonaram as suas residências e refugiaram-se nas sedes distritais de Vanduzi e Espungabeira, na sequência de incursões levadas a cabo por homens armados alegadamente da RENAMO, que terão roubado gado bovino e bens da população.
A DW África deslocou-se a estes distritos, onde ouviu relatos dos populares. Temendo perseguições, as testemunhas pediram para não serem identificadas. "Por causa da guerra, o meu pai e a minha mãe levaram-nos para o Zimbabué", contou uma jovem em Mossorize. "Deixámos tudo. Na nossa região, fugiram todos para o Zimbabué e para Tete". No final, deixou um apelo: "Pedimos ao Presidente Filipe Nyusi e a Afonso Dhlakama que se sentem porque nós queremos a paz."
Produção agrícola parada
Outra entrevistada, também sob anonimato, confirmou que a tensão político-militar levou muitos populares a fugir para o país vizinho. Outros foram para as cidades de Tete e Chimoio. Também ela deixou tudo para trás, "incluindo a produção e o gado".
"Este ano não vamos cultivar, com medo de abandonarmos a produção devido aos ataques. Nós nascemos aqui e crescemos nesta região, não temos abrigo noutro lugar. Queremos continuar a produzir comida, a criar o gado e a lutar contra a crise económica", explicou. "Pedimos ao Governo, se nos está a ouvir".
Nos últimos dias, segundo os relatos ouvidos pela DW África em Mossorize, a situação tem vindo a melhorar ao nível da sede do distrito. No entanto, nos postos administrativos e localidades a tensão político-militar é extremamente elevada. "O posto administrativo de Chiurairwe é o mais afetado. Esta situação ditou que os residentes desta zona se deslocassem para o vizinho Zimbabué e outros foram acolhidos em tendas".
Administradora de Báruè contradiz populares
Em Báruè, o cenário não é diferente, segundo uma cidadã ouvida pela DW África. Sublinhou que toda a população da região está cansada da guerra e que, em quatro povoados, a situação é mais crítica, porque os confrontos não cessam. Com medo, os populares fogem para o Zimbabué.
"Aqui, no posto administrativo de Chôa, alunos e a comunidade em geral fugiram para a República do Zimbabué e alguns foram para Vanduz, Tete e Chimoio à procura de abrigo e lugar seguro", explicou.
Confrontada com a situação, a administradora de Báruè, Rosa Bias Luís, contradiz as palavras da população que tem estado a viver a tensão que afetou aquele distrito.
Segundo a administradora, grande parte dos populares que se tinha refugiado no vizinho Zimbabué já regressou às suas zonas de origem. Os cidadãos residentes no distrito rejeitam esta versão.
"A maior parte da população que estava emigrada já voltou às suas áreas de residência na localidade de Nhabuto e no posto administrativo de Chôa, graças ao trabalho árduo das nossas Forças de Defesa e Segurança, que conseguiram tirar os bandidos armados da RENAMO", sublinhou a dirigente.
RENAMO rejeita acusações
Contactado pela DW África, o delegado da RENAMO em Manica, Sofrimento Matequenha, desmente as acusações feitas ao maior partido da oposição: "Acusam a RENAMO de invadir as casas das pessoas e extorquir os bens dos populares em Mossorize, mas não é isso."
A tensão político-militar em Manica flevou à criação de escoltas militares para garantir a circulação de viaturas ao longo da Estrada Nacional Número Sete (EN7), que estabelece a ligação Vanduzi/Changara.
A administradora de Báruè saudou as Forças de Defesa e Segurança pelo que têm feito para a proteção da população e seus bens.